Há quem não faça o serviço por menos de dez mil euros, outros por seis mil e muitos só estão disponíveis para se imiscuírem na ancestralidade judaica sefardita a partir dos três mil. No fundo, e à mercê de um simples clique na internet, não faltam gabinetes de advogados, genealogistas e empresários que, cá e lá fora, acenando com ligações privilegiadas às comunidades judaicas do Porto e de Lisboa, prometem via aberta para um passaporte português, recorrendo à lei criada em 2015, de atribuição da nacionalidade aos cidadãos que provem descender dos judeus sefarditas que receberam ordem de expulsão do rei D. Manuel I, em dezembro de 1496. A dimensão do negócio que envolve a cidadania portuguesa aumentou consideravelmente nos últimos dois anos, após Espanha pôr fim a uma lei com o mesmo intuito de reposição histórica, para impedir a replicação de processos duvidosos como o que envolveu o mais recente cidadão português, o multimilionário Roman Abramovich.
Ainda sem os números de 2021, foram quase 87 mil os pedidos que chegaram ao Instituto dos Registos e Notariado (IRN), até 31 de dezembro de 2020, para a obtenção da nacionalidade. A maioria (88,5%), de acordo com os dados fornecidos pelo Ministério da Justiça (MJ) à VISÃO, viu validadas as provas de ligações aos sefarditas pela Comunidade Judaica do Porto (CJP) – a mesma entidade que esteve debaixo de fogo nas últimas semanas, por ter reconhecido os ancestrais do empresário judeu russo, dono do clube de futebol britânico Chelsea, e que garante já ter proposto ao Governo melhorias à lei, para uma maior transparência dos processos.
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