O ambiente pesado que se foi sentindo ao longo da noite no Hotel Sana Malhoa, em Lisboa, onde esteve concentrado o quartel-general de Rangel, acabou por nunca se dissipar até à assunção da derrota pela candidatura e de o eurodeputado assumir de viva voz que perdeu para Rui Rio. As bandeiras que estavam numa mesa à entrada nunca chegaram sequer a ser desfraldadas.
Paulo Rangel garantiu que, apesar de ter sido alvo de críticas pelo momento em que decidiu desafiar Rui Rio para uma disputa interna, “depois de hoje ninguém terá dúvidas” de que o presidente do partido sai reforçado.
“O processo eleitoral interno no PSD não fragilizava o PSD. Tendo sido feito como foi, legitimaria o líder”, disse. Só que o partido não o legitimou; antes optou pela continuidade. Por isso, o eurodeputado, que regressa a Bruxelas agora e atira uma análise dos resultados para depois, apela à “união” dos sociais-democratas e afirmou-se disponível para rumar ao terreno nas legislativas, falhada que se mostrou a sua “estratégia”.
“Candidatei me porque tinha uma estratégia diferente e visão diferente do candidato que ganhou. [Mas] os militantes do PSD escolheram uma outra estratégia e outro protagonista para a executar”, disse, admitindo que estará na campanha eleitoral das legislativas.
“Continuarei [agora] a trabalhar na minha função, que é deputado europeu, e naturalmente, de forma leal e estreitamente com a liderança de Rui Rio“, assegurou Rangel, que apontou para o “prazo muito urgente” para o partido se unir com foco nas eleições de 30 de janeiro de 2022. “Se vamos para as eleições legislativas temos de ir unidos“, acenou.
O eurodeputado defendeu que, apesar da luta contra Rio, não ficou beliscada a relação de “alguns anos” com o ex-autarca: “Nunca fizemos as pazes porque nunca estivemos em guerra; estávamos numa contenda eleitoral. Tive sempre uma relação de estima e de respeito pelo dr. Rui Rio; ela manteve-se ao longo desta disputa – nas poucas vezes em que falámos – e, hoje, foi exatamente igual. A minha relação de respeito, estima e grande franqueza, já com alguns anos, manteve-se igual e foi nesse registo que ocorreu o nosso telefonema”.
Para Rangel, que já em 2010 tinha tentado chegar à liderança do partido numa corrida contra Passos Coelho e Aguiar Branco, “não há nenhum divórcio” entre os líderes das estruturas dirigentes do PSD, que estiveram ao seu lado, e os militantes base, que votaram nessas áreas em Rio. Aliás, até espera que tais dirigentes não venham a ser penalizados agora, na elaboração de listas para deputados. “No PSD, todos os militantes são livres e votam livremente”, frisou, mostrando-se contra uma eventual “distinção artificial, prejudicial para o PSD”, que possa surgir na sequência deste resultado.
A análise do que falhou foi afastada para já e a “reflexão será feita a seu tempo”, apontou, para uma sala de cerca de 70 cadeiras, onde as bandeiras que a elas estavam encostadas não chegaram a ser levantadas.
Atuais e ex-deputados, como Pedro Alves, Pedro Rodrigues, Bruno Vitorino e António Leitão Amaro; dirigentes locais, como Carlos Reis; e destacados militantes, como Gonçalo Reis, ex-presidente da RTP, ou Helena Lopes da Costa, ex-vereadora em Lisboa; assim como estiveram toda noite longe do olhar dos jornalistas, fechados numa sala onde acompanharam os resultados, assim desapareceram da sala com Rangel pelas 22.10 horas.