Após três anos de relativa paz com os militares, João Gomes Cravinho entrou num terreno minado, há quase dois meses, ao impor a reforma da organização dos comandos das Forças Armadas e das competências das chefias dos três ramos – Marinha, Exército e Força Aérea. O desconforto foi tal que, dada a impossibilidade constitucional de manifestações de desagrado por parte do setor, ganhou uma frente de contestação mediática, com 28 antigas altas patentes, encabeçada pelo ex-Presidente da República, general Ramalho Eanes. O ministro da Defesa, que foi a resposta de António Costa à tempestiva saída de Azeredo Lopes, devido ao escândalo do assalto de Tancos, já assegurou que, aqui ou ali, pode haver um ajustamento ao plano, que permaneceu na gaveta ao longo de vários governos e está agora no Parlamento.
À beira dos 57 anos, Gomes Cravinho é acusado pelas associações militares de avançar unilateralmente com uma alteração ao topo das estruturas, sem mostrar disponibilidade para negociar, quando as Forças Armadas se batem com a falta crónica de efetivos e de equipamentos face às exigências das operações no âmbito da NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e da ONU (Organização das Nações Unidas). Esta é uma imagem diametralmente oposta àquela que o governante cultivou junto dos mais próximos e dos que consigo têm trabalhado, desde que aterrou em Lisboa, vindo da London School of Economics, no final da década de 1980.