“Não é do meu temperamento ficar em casa”, atirou, à chegada do Campus da Justiça, em Lisboa, José Sócrates, que ouve, na tarde desta sexta-feira, a instrução do processo Marquês. O ex-primeiro-ministro afastou a possibilidade de não ouvir o que lhe reserva o juiz Ivo Rosa, a quem defendeu quer da campanha mediática, quer – inclusive – do setor judicial, a começar pelo presidente do Supremo Tribunal de Justiça (STJ).
“Esta é a primeira vez que um tribunal decide comunicar diretamente as suas decisões e não pelos jornais”, disse, acrescentando ao que foi: “venho para denunciar o que tem sido uma campanha mediática para condicionar o tribunal e o juiz”. Aliás, algo de que se queixou também. “Todos os cobardes que me acusam e insultam nos jornais não me intimidam e não os temo”.
“Ao longo destes meses, o jornalismo português, por influência do Ministério Público, tentou condicionar o tribunal, e fê-lo com cumplicidade e silêncio de todas as instituições. Porque o juiz foi acusado de ser amigo dos poderosos”, argumentou, rodeado de um enorme aparato mediático e com um grupo de funcionários judiciais que exigem a vacinação anti Covid-19.
Segundo Sócrates, “nunca nenhuma instituição que defende os juízes” o fez em relação a Ivo Rosa. Aliás, até “foi cúmplice do silêncio”. “É extraordinário e inaceitável que o presidente do Conselho Superior da Magistratura [António Joaquim Piçarra, também presidente do STJ] ao longo destes meses tenha feito considerações sobre o caso”. O ex-primeiro-ministro aludiu à entrevista de Piçarra, que numa entrevista à Lusa defendeu o fim do Tribunal de Instrução, considerando-o como um entrave na rapidez desejada para uma justiça célere, como o presidente da República pediu, em 2020, na abertura do ano judicial.
“O senhor presidente do Conselho Superior da Magistratura, a quem compete defender a liberdade dos juízes e dos tribunais, teve um comportamento inaceitável”, apontou.
Em contraste com José Sócrates, a cabeça do processo em causa, o antigo banqueiro Ricardo Salgado, um dos 28 acusados, não irá comparecer para a leitura da instrução do juiz Ivo Rosa.