O presidente da Distrital do Porto do Chega anunciou esta quarta, 27, a sua demissão do cargo, invocando “motivos de ordem pessoal”, embora refira que a decisão estava tomada desde o mês passado. Na mensagem tornada pública no Facebook ao final da tarde, José Lourenço recusa qualquer ligação entre o seu abandono e os resultados do candidato presidencial André Ventura no distrito, os piores a nível nacional (8,4 %). “Desenganem-se os abutres que pensam que o resultado foi mau”, reage o agora demissionário, assumindo, contudo, que o Porto era, à partida, território “hostil” para o líder e o partido.
E deu exemplos: “Os RSI´s [Rendimento Social de Inserção] estão em maior número no País no distrito do Porto, Rui Pinto tem ligações próximas a Ana Gomes, Pinto da Costa apoiou publicamente Ana Gomes”, justifica José Lourenço, portista assumido, com ligações próximas aos Super Dragões, à secção de boxe do clube e conselheiro do antigo cônsul honorário em Palm Coast, César do Paço, apoiante e tido como financiador do Chega.
Para o agora ex-dirigente, André Ventura continua a ser “o único político que nos pode tirar deste marasmo”, mas não deixa de enviar recados para o interior do partido. “Os abutres que se podem perfilar no horizonte não são mais que meros instrumentos de uma extrema-direita já obsoleta e descontinuada”, assinala, adiantando que os elementos dessa fação estarão “em vias de serem expulsos”. Recorde-se que José Lourenço manteve polémicas internas acesas com Luís Filipe Graça, presidente da Mesa da Convenção, que, a dada altura, identificou como o representante da ala mais extremista do partido.
Do CDS ao Chega
José Lourenço é um ex-militante do CDS, com fortes de laços de amizade ao eurodeputado Nuno Melo que, a dada altura, também esteve próximo do antigo e controverso cônsul César do Paço, no passado financiador dos “centristas”. De resto, a sua mulher, Deanna, chegou a encabeçar a lista do CDS pelo círculo Fora da Europa. A postura interna deste dirigente e da estrutura distrital que dirige, com ataques violentos e públicos a vários colegas de partido com assento nos órgãos nacionais do Chega, levou mesmo, em dezembro, à demissão de Patrícia Sousa Uva, mandatária de Ventura nas Presidenciais.
José Lourenço é também dirigente da Fundação César do Paço, de cujo conselho consultivo fazia igualmente parte Nuno Melo, que, entretanto, saiu. O sítio oficial da fundação ficou, por estes dias, inacessível.
“José Lourenço é uma espécie de testa de ferro do César e os negócios parecem sempre estranhos. Temo que o Chega se associe a situações menos claras, até porque ninguém acede a informações sobre o dinheiro que entra e como é gasto”, acusava, há uns meses, o ex-dirigente nacional Miguel Tristão Teixeira na VISÃO. Na altura, o então líder da distrital do Porto, com percurso na consultoria e negócios imobiliários, considerou “abusivo” ser adjetivado como testa de ferro e negou a existência de ambições políticas ou interferências na vida partidária por parte de César do Paço. No seu caso particular, admitiu a existência de dívidas fiscais de dezenas de milhares de euros, as quais teve de enfrentar vendendo vários imóveis. Lourenço contestou os valores da liquidação pendente nas Finanças e garantia que o problema estava em vias de resolução.