Luís Filipe Tavares, ministro dos Negócios Estrangeiros e da Defesa de Cabo Verde, demitiu-se esta terça, 12, na sequência das notícias sobre o atual cônsul honorário do país na Flórida, apoiante e financiador do Chega.
César do Paço ocupou, de 2014 até ao ano passado, as mesmas funções ao serviço de Portugal nos Estados Unidos da América, nomeado pelo ex-ministro Paulo Portas, mas demitiu-se do cargo, alegadamente incompatibilizado com o embaixador português nos EUA. As relações do também empresário com o partido de André Ventura – que a VISÃO revelou em maio e aprofundou em julho do ano passado – vinham há muito gerando controvérsia no interior do Chega e agora, na sequência de uma reportagem da SIC sobre o papel de César do Paço no partido, o governante cabo-verdiano apresentou a sua demissão, poucas horas depois de ter assegurado que iria manter o cônsul no cargo, considerando-o “pessoa de bem”.
Segundo a SIC, César do Paço junta ao seu passado nebuloso o facto de ter sido acusado em 1991 de crime de roubo qualificado, tendo o Ministério Público decretado a sua prisão preventiva, seguindo de um mandado de captura. Contudo, acabou por não ser julgado, pelo facto de ter fugido, sendo declarado contumaz. O cônsul passou o fim de ano em Cabo Verde na companhia de José Lourenço, presidente da distrital do Porto do Chega, de Fernando Madureira, líder da claque Super Dragões, e das respetivas mulheres.
PAICV pede explicações
A presidente do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAIVC), Janira Hopffer Almada, exigiu explicações do Governo cabo-verdiano sobre a demissão do ministro dos Negócios Estrangeiros e as relações do cônsul com o Chega. “A situação parece ser tão grave que quero crer que não terei percebido bem! Então, um dos maiores financiadores do Chega [partido político português] é Cônsul Honorário de Cabo Verde na Florida, EUA?”, questionou a líder do PAICV, numa mensagem colocada na sua conta oficial na rede social Facebook. “Qual a relação de Cabo Verde com a extrema-direita portuguesa? Minha gente, estamos a falar da extrema-direita. Um potencial financiador da extrema-direita em Portugal é que está a representar o nosso país? A situação é grave demais”, escreveu Janira Hopffer Almada, acrescentando que o Governo “deve explicações”. A demissão de Luís Filipe Tavares, que é um dos vice-presidentes do Movimento para a Democracia (MpD, no poder) ocorre no mesmo dia em que o Presidente cabo-verdiano marcou a data das eleições legislativas para 18 de abril e das presidenciais para 17 de outubro.
*com Lusa