Manuel António Gomes de Almeida de Pinho. Ou Manuel Pinho, como é mais conhecido, foi ministro da Economia no primeiro Governo de José Sócrates, em 2005. Apesar de muitas vezes dado como remodelável, aguentou quatro anos até ao dia em que fez o gesto que o levaria a sair do Executivo: os famosos corninhos em plena sessão na Assembleia da República.
Agora, envolvido em processos judiciais, Pinho voltou à ribalta.
Na sequência do chamado processo EDP, em que se investiga os cerca de 1,2 mil milhões de euros que terão sido concedidos à elétrica por parte de Manuel Pinho, enquanto ministro da Economia, o jornal Observador revelou ontem que o economista terá recebido 1 milhão da euros do famoso “saco azul” do GES. Metade desse valor terá sido entregue em tranches mensais de, exatamente, 14 963,94 euros na altura em que era ministro.
Manuel Pinho foi administrador do BES durante dez anos (1994-2004), mas em março de 2005 cessou essa relação profissional quando aceitou integrar o Governo.
Recorde-se que, no caso EDP, o ex-ministro foi constituído arguido pelos alegados crimes de corrupção passiva e de participação económica em negócio.
Também no âmbito da investigação deste processo, Pinho admitiu morar num apartamento no, centro de Nova Iorque, que está em nome de uma sociedade offshore – a Blackwade Holding Limited, por si detida – com sede nas Ilhas Virgens Britânicas.
Outra das frentes do processo são as aulas que leciona nos EUA. “Terá sido colocado na Universidade de Columbia pela empresa [EDP], em troca de alegados benefícios que a EDP terá conseguido com a revisão dos contratos CMEC [Custos para a Manutenção do Equilíbrio Contratual]”, pode ler-se aqui, no texto que a VISÃO publicou em dezembro de 2017.
Mas voltemos ao início do texto. Sim, aos corninhos. É que a curta “carreira” política de Manuel Pinho foi pródiga em momentos espirituosos, gaffes e histórias de bastidores
Aqui ficam alguns exemplos.
As gaffes
Em Aveiro, numa sessão para assinar protocolos de investimento, Manuel Pinho diz “a crise acabou”, “estamos num ponto de viragem”. Pois, só que a crise estava ainda a dar os primeiros passos quando Pinho a declarou morta.
outubro de 2006
Numa visita à China, saiu-se com esta pérola para atrair investimento: “Uma das cinco razões para os empresários chineses investirem no nosso país é a mão-de-obra barata”.
fevereiro de 2007
Na maior feira de calçado do mundo, em Milão (Itália), e a convite de empresários portugueses, lança esta: “Eu vinha cá comprar sapatos italianos, mas fiquei tão impressionado com a qualidade dos sapatos portugueses que vou levar sapatos portugueses. Vinha comprar sapatos italianos porque têm um ótimo nome em termos de design”.
fev 2008
A passa proibida
Fumador inveterado, acompanhou o primeiro-ministro José Sócrates no célebre cigarro fumado a bordo do avião fretado para a visita oficial à Venezuela. Ambos pediram desculpa e Pinho ainda disse ao Expresso: “Mas não deixo de fumar.”
maio de 2008
Na piscina com Phelps
Quase chegou a tenista profissional, mas foi dentro na piscina de um hotel em Vilamoura que se fez fotografar com Michael Phelps, o super-nadador americano que encheu o perito de medalhas nos Jogos Olímpicos. Phelps estava de passagem por Portugal.
agosto de 2008
Come a papa
Em Ponte de Lima, vira-se para os jornalistas e diz que Paulo Rangel (hoje eurodeputado do PSD) “tem de comer muita papa Maizena para chegar aos calcanhares do Dr. Basílio Horta”.
Estava em causa uma crítica que Paulo Rangel tinha feito a Basílio Horta, na altura, presidente da Agência para o Investimento e Comércio Externo (AICEP), por este ter recusado uma proposta do PSD que permitia aos jovens à procura do primeiro emprego candidatarem-se em qualquer país da Europa.
maio de 2009
E, finalmente, os corninhos
Francisco Louçã, então deputado do Bloco de Esquerda, questionava o antigo primeiro-ministro José Sócrates sobre as minas de Aljustrel. Como é habitual na sessões plenárias da Assembleia da República, Bernardino Soares, deputado do PCP, lançou um aparte direto ao ministro da Economia – lembrou-lhe que tinha ido a Aljustrel entregar ao clube de futebol local um cheque de cinco mil euros “passado” pela EDP.
A resposta, em forma gestual, ficou para os livros das polémicas no hemiciclo. Manuel Pinho dirigiu uns “chifres” ao deputado comunista. Depois, pediu desculpa e demitiu-se.
julho de 2009