Quem não soubesse que Santana Lopes tinha corrido contra Rui Rio nas eleições diretas do PSD não saberia adivinhá-lo se ouvisse apenas o seu discurso no 37º Congresso social-democrata. As críticas ao seu ex-adversário não existiram e as referências fizeram-se quase sempre em modo elogioso. “Rui Rio é um candidato com coragem, que não tem medo”, classificou o ex-provedor da Santa Casa da Misericórdia.
Condenou aqueles que antes do congresso “tentaram condicionar” a atuação de Rui Rio através de “comentários”, “entrevistas” ou “cartas” mas que não têm coragem “para dizer aqui aquilo que disseram antes de aqui chegarem”, numa clara referência a Miguel Relvas e a Miguel Pinto Luz.
Puxou do desígnio “da responsabilidade” para justificar o facto de encabeçar a lista de Rui Rio ao Conselho Nacional. Argumentou que este não é o tempo para divergir mas sim “de convergir.” E quando há vontade esse caminho em conjunto torna-se “natural.” “Não foi difícil, foi fácil chegarmos a essa convergência”, confessa. Ainda assim, não ignora as críticas de falta de representatividade mas, também de forma natural, pediu desculpa por não haver, “por uma questão de física, lugar para todos.” Mas a justificação não pareceu convencer a plateia, que se manteve silenciosa, como se não aceitasse as desculpas.
Santana Lopes parecia apoiante de Rui Rio e fez toda a ginástica necessária para transformar o que antes foram críticas em divergências menores. Apenas uma mereceu continuar a ser questionada: “a viabilização de um governo do PS.” Mas para o ex-autarca de Lisboa é uma “questão complexa” onde cabem diferentes visões.
Num discurso que durou cerca de 25 minutos, houve ainda tempo para indicar possíveis alvos de ataque para os próximos tempos. Apontou a incoerência “dos partidos à esquerda do PS”, que apoiam “o governo com o nível mais baixo de investimento público dos últimos anos.”
Para o final guardou uma tirada que lhe devolveu a condição de ex-candidato que parecia estar a fugir. “Muitos de nós vamos dar-te a unidade e convergência que alguns que te apoiaram nestas diretas nunca deram ao anterior líder do partido”, disse, numa subtil referência àquilo que em campanha apelidou de “grupo maravilha.”