Chegou ao fim o ciclo de Passos Coelho no PSD. O líder laranja comunicou esta noite ao conselho nacional e ao país a decisão resultante do período de reflexão. “É a decisão que faz sentido”, explica. O resultado das eleições autárquicas do passado domingo deixou marcas e o ex-primeiro-ministro não resistiu ao resultado que ele próprio classificou como “mau é duro.” Cumprirá o mandato até ao fim mas sairá de cena para que possam aparecer novos protagonistas que consigam “encontrar um caminho diferente para o futuro do partido.”
Para além do mau resultado da noite eleitoral, Passos Coelho quis deixar claro que nunca foi um homem agarrado ao poder. “Gosto de assumir as responsabilidades”, esclareceu. Ficar “seria oferecer a caricatura de que estamos agarrados ao poder” e o líder laranja não quer dar esse argumento de mão beijada aos seus críticos.
O silêncio na sala era total. Todos os militantes ouviam o líder com atenção. Nenhum rosto revelava surpresa ou animação. Apenas atenção. Num tom sereno, o discurso de Passos Coelho serviu para confirmar uma notícia que já tinha sido conhecida ao longo do dia. O presidente do PSD disse que não tinha “condições para oferecer” uma nova perspetiva ao partido. Não porque não tivesse argumentos para isso – disse depois de pedir que lhe desculpassem a imodéstia – mas sim porque era necessário mudar de estratégia. Algo que o próprio reconheceu não ser capaz de fazer.
As diretas vão ditar quem é o líder que se segue. O sufrágios interno está previsto para janeiro. Na sua intervenção de mais de vinte minutos, Passos Coelho sugeriu também que este ato eleitoral acontecesse ainda este ano. “Não vale a pena prolongar artificialmente” as diretas e o congresso, justificou. “Dois meses e meio bastam para fazer as coisas bem feitas.” Pouco depois de os jornalistas terem abandonado a sala onde decorre o conselho nacional do partido, foi anunciado uma nova reunião deste órgão máximo para o dia 9 de Outubro com o intuito de agendar tanto as diretas como o congresso que se lhes segue, um mês depois.
O líder dos sociais-democratas lembrou ainda a importância do partido tanto no país como na Europa. Elogiando Hugo Soares, líder do Grupo Parlamentar do PSD, e o eurodeputado Paulo Rangel, Passos Coelho afirmou que os sociais-democratas têm os protagonistas no lugar certo para que se possam afirmar como um partido que seja “um pilar de estabilidade e gestão no futuro.” Não deixa de ser relevante notar que Rangel tem sido apontado como um dos possíveis candidatos à sucessão de Passos Coelho.
O ainda presidente do PSD afirmou que o facto de não se recandidatar “não significa” que se “vá calar para sempre”, embora esclareça que também não pretende ficar “aqui a rondar.” Passos Coelho sai de cena e já todos esperam pelo próximo ato. Resta saber quem vai assumir o papel principal.