A 1 de fevereiro – esta quarta-feira – a Carris passará a ser gerida pela Câmara Municipal de Lisboa. A dúvida é por quanto tempo. Isto porque o PCP decidiu causar mais uma dor de cabeça a António Costa, depois da novela em torno da TSU, e pedir a apreciação parlamentar do decreto-lei que transfere a Carris para Lisboa, por discordar da “municipalização” do serviço público.
O PS mostra para já alguma tranquilidade, com o deputado João Paulo Correia a garantir à Lusa que os socialistas estão abertos ao diálogo. Acrescentou, no entanto, que estão “convictos de que a medida de transferência da Carris para o município de Lisboa é a mais racional e a que melhor defende o interesse público, no plano do serviço e no plano da gestão financeira da empresa”.
Por enquanto ainda não está definida a intenção final dos comunistas com este pedido: apenas cessar a vigência, revogando-o, ou apresentar alterações. Ontem, em conferência de imprensa, o dirigente João Frazão explicou que o partido ainda vai decidir o caminho. “Pode haver sempre soluções para manter a Carris no sector empresarial do Estado e corresponder aos objetivos que definimos. Há sempre soluções, desde que haja interesse e vontade”. Por agora, o membro da comissão política do Comité Central comunista aproveitou para dizer que o pedido não coloca em causa a maioria parlamentar: “Pela clareza de posições, pela seriedade com que o PCP está nesta matéria, pela coerência com que intervém na defesa dos transportes públicos, populações e trabalhadores da Carris, seria muito estranho que esta posição do PCP pusesse em causa qualquer situação, a não ser a municipalização da Carris”.
Enquanto o PCP não disser o que fará efetivamente, o PSD refugia-se sobre o seu sentido de voto, com uma fonte da direção da bancada a dizer à VISÃO que a posição dos social-democratas dependerá do conteúdo da proposta. Ainda assim, lembra a mesma fonte, o princípio no PSD continua a ser não ajudar o Governo de António Costa quando for preciso o voto laranja para impedir cisões na geringonça. Ao nível municipal, o PSD já deixou claro que espera que a medida seja revertida no Parlamento, com António Prôa a considerar a apreciação do PCP como uma “oportunidade” para ser encontrada uma “solução melhor”.
Quem já admitiu votar ao lado do PCP foi o CDS, com Hélder Amaral a lembrar à Lusa que o partido defendeu o modelo de concessão a privados, sendo que “o que está em cima da mesa é uma Carris pequenina, suportada na totalidade pelos lisboetas, sem se saber como ficará o financiamento da empresa, os direitos dos trabalhadores, a sua articulação metropolitana”.
Mas se na TSU, PCP e BLoco se uniram contra o PS, agora a geometria variável pode variar de facto do lado da esquerda. No site do partido, o deputado municipal Ricardo Robles defendeu a medida, considerando que “a transferência da Carris para a Câmara” era “uma boa notícia”.
Quem já reagiu também foi o Sindicato Nacional dos Motoristas, falando em “ingerência” por parte dos comunistas e dizendo que não admite que os trabalhadores sejam utilizados em “querelas políticas”.