Na nova composição das instituições europeias tudo é pensado ao milímetro. A saída de Martin Schulz do Parlamento Europeu abre um problema muito superior à sua sucessão. Porque não basta substituir o alemão. Ao fazê-lo, todos os equilíbrios e todas as restantes instituições ficam na berlinda. “Até a presidência da Comissão Europeia”, deixa cair Paulo Rangel, vice-presidente do Partido Popular Europeu.
As contas não são fáceis. Com a saída de Schulz, da família europeia socialista, o entendimento pré-existente era para que lhe sucedesse um membro do PPE. Mas as tradições já não são o que eram e os socialistas avançaram com a candidatura de Giani Pitela para o lugar. Além disso, se Schulz for substituído por alguém do PPE, e sendo Juncker tambem ele da família PPE, Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu fica com o lugar em risco. “Com a saída de Schulz, pode ter que sair Tusk”, assume Rangel.
As negociações vão, por isso, fazer-se a um nível mais alargado do que apenas o Parlamento Europeu. E Rangel está convencido que Pitela pode até estar apenas a ganhar força para abrir espaço para uma candidatura do grupo dos liberais, encabeçada por Guy Verhofstadt.
Todo este pacote pode ter um efeito negativo num objetivo mais nacional para Portugal: a troca de pasta de Carlos Moedas na Comissão Europeia. É que se é verdade que o nome do comissário português tem sido cada vez mais falado como a melhor hipótese para herdar a pasta da Economia Digital, que estava com Günther Oettinger – o alemão que deve ocupar o lugar de Kristalina Georgieva, após a saída desta para o Banco Mundial – também não é menos verdade que “Juncker não será insensível às maiorias que se formem no Parlamento Europeu” e isso pode ter influência na “reformulação da Comissão”, diz o eurodeputado português.
Paulo Rangel pede, no entanto, que se “deixe a diplomacia portuguesa trabalhar discretamente” em favor de Moedas, porque “há maiores chances de não espantar a caça”.