Depois de muitas reuniões – e ruído na praça pública – tudo acabaria por se resolver ao telefone. O ministro alemão das Finanças terá ligado ao comissário Günther Oettinger a indicar que estava na altura de suavizar o tom. De acordo com o jornal El País a mudança de postura de Shäuble foi crucial para evitar as multas a Portugal e Espanha.
Segundo o El País o ministro alemão terá concluído: “A multa não é necessária. À Alemanha basta a decisão do Ecofin de manter Portugal e Espanha sob vigilância apertada”.
A decisão alemã surgiu depois de uma reunião com os homólogos de Espanha, França e Itália. À mudança não terá estado alheia a situação económica destes países, a viverem dificuldades em cumprir os défices. Mas, igualmente importante terá sido a posição estratégica entre a Espanha e a Alemanha, que se tem comportado como aliada do governo de Mariano Rajoy. Sem os votos do PP espanhol, a eleição de Jüncker para presidir a Comissão Europeia poderia ter ficado comprometida.
Antes da decisão final, Jean-Claude Juncker ouviu os responsáveis europeus pela área fiscal. Foram esgrimidos argumentos entre o vice-presidente da comissão com o pelouro do euro, o letão Valdis Dombrovskis, partidário das multas, e o francês, comissário dos Assuntos Económicos e Financeiros, Pierre Moscovici, anti-sanções, possivelmente pensado em evitar um precedente que poderia vir a revelar-se prejudicial ao seu país.
Apesar do papel de Schäuble, também é verdade que entre os 27 comissários europeus foram poucos os que defenderam as sanções até ao fim.
Do outro lado da barricada, a imprensa internacional enaltece também o papel do comissário da Investigação, Ciência e Inovação, Carlos Moedas, considerado vital para a decisão vista como uma vitória para Portugal.
Sendo certo que tanto o Governo como a oposição celebram a anulação das sanções, há quem alerte para os efeitos secundários: mais austeridade. Durante as negociações, em carta do governo português a Bruxelas foi prometido acentuar o esforço de redução do défice estrutural em 2017 – de 0,6 pontos percentuais do PIB para 0,35 pontos.
Mas o Governo veio já garantir que não prometeu mais austeridade a Bruxelas, uma vez que essa variação estava prevista nas contas. No imediato, a decisão de anular as multas foi bem recebida, levando os juros a caírem abaixo dos 3 por cento.
O caso português veio reavivar o debate sobre a utilidade das sanções, cada vez mais questionadas numa Europa pós-Brexit.