Foi na tarde desta segunda-feira, 28, em Penamacor, sua terra natal, que o secretário-geral do PS conversou com a VISÃO. Antes disso, havia calcorreado durante quase duas horas os caminhos da memória, levando os repórteres por lugares de infância, histórias da sua adolescência, momentos de agitação e de afirmação juvenil, travando o passo a cada rosto familiar e deixando-se levar pelos conterrâneos para quem ele é apenas o “Tozé” ou o “António”.
Na esplanada do restaurante do antigo quartel, tendo em fundo o cenário beirão cor azeitona e granítico, falou com frontalidade sobre o PS que quer continuar a liderar, sem perder de vista o estado do País e o futuro.
Eis alguns dos excertos do que poderá ler na edição desta semana da VISÃO:
“Há, em Portugal, um partido invisível, que tem secções sobretudo nos partidos de Governo, que capturou partes do Estado, que tem um aparelho legislativo paralelo através dos grandes escritórios de advogados e influencia ou comanda os destinos do País.”
“A esquerda precisa de mostrar que é rigorosa com a despesa e as finanças públicas. E Costa está a dar um espaço enorme para a direita dizer que os socialistas são irresponsáveis.”
“(…)Muita gente, logo no início, disse: “com o Costa é que a gente lá chega”. Não interessam o projeto, as ideias, o que as pessoas fizeram durante três anos, a disponibilidade…Para algumas pessoas, no interior do PS, interessa é aquele que dá poder e o distribui.”
“Comigo, há uma separação clara entre política e negócios. Não tolerarei que qualquer membro do meu Governo tenha a mínima suspeita. Na dúvida, deve demitir-se.”
“Não podemos ter um País de meias-tintas, meias verdades, de “uma mão lava a outra”. Isso adensa o clima de podridão”.
“A minha linha de fratura é entre a nova e a velha política. A velha política que mistura negócios, política, vida pública, interesses, favores, dependências, jogadas e intriga. O que existe no PS mais associado a essas coisas é apoiante de Costa.”
“Gostaria que toda a verdade [no caso BES] viesse ao de cima. Doa a quem doer. Se isso acontecesse, o tal partido invisível seria…mais visível. Não podemos ter um País de meias-tintas, meias-verdades, de “uma mão lava a outra”. Isso adensa o clima de podridão. Não seremos o centrão político nem o centrão dos negócios”.
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Um partido invisível
Costa “rasgou” unidade
“Herança” Sócrates
Eleições internas
O PS e o “cheiro do poder”
Política, negócios e interesses
Transparência
Reações: deputado do PS acusa Seguro de “insinuação canalha”
João Galamba, deputado do PS e um dos mais destacados apoiantes da candidatura de António Costa nas eleições internas do PS, considera uma “insinuação canalha” o teor das declarações de António José Seguro à VISÃO. “Deve ser do calor, mas pareceu-me ver o Secretário-Geral do Partido Socialista dedicar-se à prática da insinuação canalha sobre o seu próprio partido”, escreveu o parlamentar socialista. No twitter, João Galamba deixou ainda “uma palavra para seguro e o seu desespero: vómito”. Na VISÃO de hoje, recorde-se, António José Seguro diz que “o PS associado aos negócios e interesses apoia António Costa” e promete uma separação de águas entre a política e os negócios.