Nas lutas estudantis ou em campanhas eleitorais, a personalidade de Fernando Moreira de Sá foi curtida em combate. Entrou e saiu do PSD, com Cavaco e por causa dele. Amargou com o PP de Manuel Monteiro. Teve sucessos e insucessos. Conhecidos partiram, inimigos ficaram. Amigos como Ricardo Almeida, ex-líder da concelhia “laranja ” do Porto, continuaram. Só o facto de ter levado Passos Coelho ao colo, no mundo digital, e falar sobre isso em público, lhe trouxe fama que dispensava. “Não escondo a minha total surpresa”, desabafa à VISÃO.
“Nada, na dissertação de mestrado, é novo, basta ver o que ocorreu nas autárquicas. Todos os partidos o fazem, mas, pelos vistos, não se pode falar nisso. Custou-me imenso ver o Albergue Espanhol confundido com outras matérias. Mas, enfim, em casa de ferreiro, espeto de pau. Fica a lição”, conclui o consultor de Comunicação.
Ao abordar os bastidores, campanhas negras e manipulações digitais que ajudaram Passos a chegar ao poder, Moreira de Sá, qual íman, convocou vómitos, elogios e incredulidades. Confissões que, segundo Pacheco Pereira, retratam “como, sob a batuta de Miguel Relvas, um grupo de autores de blogues e jornalistas, ajudou a ascensão de Pedro Passos Coelho, o ‘derreter’ de Manuela Ferreira Leite, o papel de Aguiar Branco, e, mais tarde, a transumância desta gente para o poder”, escreveu no blogue Abrupto. No DN, Fernanda Câncio criticou a “autopromoção, falsidades e absurdos” da entrevista, sem apresentação de “qualquer prova”. No Público, João Miguel Tavares agradeceu, irónico, “o acesso privilegiado ao nojo”. Desmentidos também houve (ver textos na página seguinte). “Dois milhões de votos não contam. Quem elegeu Passos foi um jornalista do DN que escrevia sobre a Síria. O País enlouqueceu, não é verdade?”, ironizou Luís Naves, no blogue Fragmentário, negando ter participado em manipulações.
Crime, disse?
No domingo, 17, no Público, Vasco Pulido Valente partilhou o tema noutros termos: “Não fica a menor dúvida de que existe um bas-fond na net, a pedir uma boa limpeza. É para isso que existe a polícia e a Procuradoria-Geral da República. Ou não é?”. O advogado Francisco Teixeira da Mota considera, de facto, haver matéria para investigação criminal: via artigo 180.º do Código Penal (Difamação) ou via Lei Eleitoral da Assembleia da República (coação e artifício fraudulento sobre o eleitor ou o candidato). Para Paulo Guinote, a história apenas vai no início. Mas “corresponde fielmente ao que observei ou fui sabendo indiretamente”. O autor do blogue A Educação do Meu Umbigo foi a um encontro de blogueres promovido por Passos, a um jantar com o ministro Álvaro Santos Pereira e encontrou-se com o líder do PSD para falar sobre Educação.
Ao ambiente inicial de “consternação perante o estado do País”, seguiu-se o jantar onde alguns, “em nome do liberalismo, já andavam a encostar-se valentemente ao Governo e aos subsídios”. E era evidente o “aliciamento para uma postura favorável a Passos Coelho ou ao Governo”. De virgens não reza a história: “Não tenho qualquer dúvida acerca da existência de campanhas orquestradas, no tempo de Sócrates, para colocar certos temas na ordem do dia, desacreditar adversários e muitas outras coisas como a criação de perfis falsos para comentar até à exaustão em blogues como o meu, usando técnicas de navegação anónima na internet. Denunciei bastantes vezes o que se passava”, refere Paulo Guinote, acrescentando: “Muita gente tinha a noção de que boa parte da sua vida tinha sido, no mínimo, investigada.” Entre 2009 e 2011, “era comum ter telefonemas anónimos”. Gente que só falava “quando atendia a minha mulher, com acusações diversas sobre mim. O mesmo aconteceu na escola dela. Quem o fez? Não sei.”