A professora Viktoriya Dubchak, 23 anos, tem lidado de perto com algumas das crianças ucranianas que têm chegado a Portugal, refugiadas com as suas mães, fugindo da guerra que a Rússia teima em protelar.
Também Viktoriya chegou a Portugal vinda da Ucrânia, em 2003, na altura com quatro anos, quando os seus pais decidiram vir para a União Europeia à procura de melhores condições de vida.
No país natal ficaram os avós maternos, hoje na casa dos 60 anos, mais os tios e o primo pequeno, com quem tem preocupações constantes. Ajuda o WhatsApp para saber que os mais velhos estão bem, mesmo quando em algumas ligações Viktoriya consegue ouvir o som dos mísseis a passarem.
Como o alarme, que faz lembrar constantemente a situação de guerra em que os ucranianos vivem desde 24 de fevereiro, soa tantas vezes os avós da professora já não vão a correr para o bunker, preferem ficar em casa. É a normalidade da guerra a interferir nas mentalidades e nas decisões.
Entretanto, a Portugal já chegou a tia e o primo de seis anos, mas o tio, ainda em idade para combater, não pôde sair do país.
O primo, que Viktoriya tinha visto pouco vezes, juntou-se agora aos restantes meninos e meninas ucranianos a estudarem no St. Dominic’s International School, em S. Domingos de Rana, concelho de Cascais, onde Viktoriya Dubchak com o curso de educação básica, a acabar o mestrado de ensino de português, de historia e geografia do 2.º ciclo, ensina língua portuguesa a estrangeiros, entre os 11 e os 15 anos, do 5º ao 10º anos.
Ao colégio internacional, a lecionar em inglês, chegam crianças de todo o mundo. Aos cinco ucranianos que já estavam matriculados antes de a guerra começar, juntaram-se mais cinco, vindos de escolas equiparadas a estas.
A maior coincidência acontece com uma professora de espanhol que ali reencontrou três dos seus alunos, irmãos, de uma escola internacional na Ucrânia.
Para melhorar e facilitar a integração, inclusão e multiculturalidade destas famílias destroçadas, a escola desenvolveu um projeto de telescola. Online realizam-se, em direto, às terças e quintas, das 16 às 17 horas, aulas de português, mas também de artes, humanidades e inglês. O projeto da telescola para ucranianos, dos 5 aos 12 anos, teve início no início de maio e irá durar até ao fim deste ano letivo, recomeçando no seguinte.
As aulas também serão gravadas, ficando depois disponíveis numa plataforma digital, acessível em diferentes fusos horários.
A chegada do primo de Viktoriya deu uma nova ideia à professora. Em vez de ser apenas um projeto online, acrescentar atividades extra curriculares em modo presencial.
Já a frequentar uma escola pública de Cascais, concelho que já recebeu 218 crianças ucranianas dos 3 aos 17 anos nas suas escolas públicas, o primo da professora pouco conseguia falar português e por isso nada brincava, chegando aflito a casa e a desenhar muitos objetos de guerra.
“Isto não vai curar o trauma de ninguém, mas direciona o foco para algo positivo ao tentar comunicar com os outros e pôr o que os perturba em segunda plano”, conta Viktoriya Dubchak. “Quando as crianças estão leves e, apesar da guerra, não sabem o que se está a passar, sinto-me útil. Mas, lidar com crianças mais afetadas custa muito. Os seus olhares tristes, alguma agressividade, comprovada pelos desenhos de tanques, aviões, bombas e drones que ajudam as pessoas.”
Também uma iniciativa conjunta do Ministério da Educação (Direção-Geral da Educação) e da RTP está a promover o ensino e a educação em ucraniano e em português para as crianças, jovens e até adultos recém-chegados ao nosso País conseguirem uma melhor comunicação.
A base das aulas do #EstudoEmCasa são os diferentes aspetos da vida quotidiana e um conjunto de léxico essencial, tudo disponível no site RTP Ensina. Trata-se de 14 programas de Português Língua Não Materna, em que duas docentes, uma de língua ucraniana e outra de português, ensinam a língua portuguesa a falantes de nível de iniciação, promovendo, em simultâneo, a cultura portuguesa em articulação com aspetos da cultura ucraniana. Na plataforma educativa da RTP também está disponível um dicionário básico e audiovisual de português/ucraniano.