Pablo González, um jornalista freelancer, que tem nacionalidade espanhola e russa, está sob custódia há 70 dias na Polónia por, alegadamente, estar envolvido num caso de espionagem ligado à invasão da Ucrânia. O jornalista estava a fazer cobertura da crise dos refugiados no país e também planeava reportar o lado ucraniano.
As autoridades polacas afirmam que o repórter é um agente dos serviços de informações militares GRU da Rússia. “Ele realizou operações em benefício da Rússia, lucrando com o estatuto de jornalista, que lhe permitiu viajar livremente pelo mundo e pela Europa, incluindo zonas de conflito militar”, avança um porta-voz do ministro com a tutela dos serviços especiais da Polónia.
“Foram obtidas vastas evidências, que agora vão passar por uma análise detalhada”, disse o porta-voz, acrescentando que González pode ficar preso durante 10 anos por participar em “atividades de serviços de inteligência estrangeiros contra a República da Polónia”. No entanto, ainda não foram apresentadas nenhumas provas.
A 28 de fevereiro, o jornalista foi preso na cidade Przemyśl, a apenas 13 quilómetros da fronteira com a Ucrânia. Depois de ter sido detido pelos serviços secretos polacos e acusado de espionagem, foi colocado na prisão de Rzeswów.
No início de abril, o jornalista foi transferido para a prisão da cidade de Radom, localidade a cerca de 100 quilómetros de Varsóvia. Até então, Pablo González estava incomunicável, com exceção das visitas do cônsul espanhol na Embaixada em Varsóvia, e não tinha advogado na Polónia.
Poucos dias após sua prisão, o tribunal regional de Rzeszów decretou a prisão preventiva para o jornalista até 29 de maio, mas o promotor do caso pode solicitar o prolongamento da prisão do jornalista.
Segundo o jornal espanhol Público, para o qual o jornalista trabalhou, a procuradoria polaca tem até à próxima segunda-feira para registar esse pedido. Se isso não acontecer, tudo indica que o jornalista espanhol sairia da prisão no final do mês. Por outro lado, e de acordo com a lei polaca, González pode ser mantido sob custódia até ser julgado, um processo que os advogados dizem que pode levar mais de um ano.
Os amigos e familiares do jornalista afirmam que as acusações são absurdas e pedem para que ele seja rapidamente libertado. “Não tenho dúvidas de que ele não é um espião”, disse Juan Teixeira, jornalista espanhol que viajou com ele para muitos países ao longo dos anos.
Problemas de passaporte
Os dois passaportes do jornalista são apresentados com nomes diferentes. O passaporte russo destaca o sobrenome do seu pai Rubtsov, enquanto o passaporte espanhol apresenta o sobrenome espanhol da sua mãe, González.
Acredita-se que esta é uma das razões pelas quais Pablo está preso: o facto de ter dois nomes pode ser visto como prova de que o jornalista usava pseudónimos nos diferentes países.
Essa confusão surge porque os pais de Pablo se divorciaram. Na altura, a sua mãe mudou-se para a Espanha quando González era um menino, registando-o com seu apelido, deixando de lado o nome russo.
Segundo o The Guardian, Pablo González começou a ter problemas no início de fevereiro, semanas antes da invasão, quando as autoridades ucranianas pediram para ele se apresentar aos serviços secretos ucranianos em Kiev. Lá foi aconselhado a deixar o país, mas não foi formalmente expulso. González procurou o conselho do consulado espanhol na Ucrânia e partiu para a Polónia.
Alguns dias depois, agentes dos serviços de informações espanhóis visitaram a casa da família e interrogaram a mulher: “Eles sugeriram que ele poderia ser pró-Rússia. Na verdade, não sei o que isso significa, afinal um cidadão russo pode ser tanto pró-Rússia quanto anti-Putin”.
A ONG Repórteres sem Fronteiras está atenta ao desenrolar da situação. “As autoridades polacas devem ser mais transparentes sobre as provas que possuem contra ele, porque até agora as informações são escassas e deter um jornalista durante meses sem julgamento é muito sério”, disse um porta-voz. “Os direitos fundamentais de Pablo González devem de ser respeitados na Polónia, uma democracia da UE.”