Paulo Rangel lamentou, na manhã desta quinta-feira, em que o mundo desperta para imagens de um conflito no leste europeu, que “a Europa tenha tido pouco cuidado em percepcionar quais eram os verdadeiros planos de Vladimir Putin”, principalmente desde o verão passado. Agora, defende o social-democrata, vice-presidente do Partido Popular Europeu (PPE), um dos focos de Bruxelas tem de ser a necessidade de “garantir a salvaguarda da soberania e integridade territorial dos países bálticos”, que fazem parte da União Europeia (UE) e que podem estar na mira de Moscovo.
“Não quero dramatizar, e devemos manter a cabeça fria neste momento. É fundamental perceber que estamos a ver como tudo isto começou mas não sabemos como vai acabar. Mas de uma coisa podemos estar cientes: Não podemos ter ilusões com o Putin. Temos de estar conscientes que este 24 de fevereiro de 2022 é o começo de um conflito global de proporções dramáticas“, disse, à VISÃO, Paulo Rangel, que revelou, após uma visita à Lituânia, o “nível de preocupação da Estónia, Lituânia e Letónia, quanto ao risco de lhes poder acontecer o mesmo que à Ucrânia”.
Rangel lembra que, já no verão, Putin tinha levantado a ponta do véu dos alegados planos expansionistas da Rússia. “Mas não precisamos ir tão longe: o discurso que foi feito, na segunda-feira, para justificar uma intervenção no Donbass, com base numa alegada proteção da etnia russa e de uma população russófona, juntando a isso uma tese de que a Ucrânia, enquanto País, é uma invenção de Lenine, foi um sinal de que há um plano – que soa até a algo de religioso, quando é invocada a ‘alma russa’ – que não se pretende que fique pela Ucrânia“, explicou, quando ao mesmo tempo, nesta manhã, a Lituânia – uma antiga república soviética e que está na União Europeia desde 2004 – declarava o estado de Emergência.
“A Europa não soube ler os sinais e teve poucos cuidados na sua relação com Moscovo”, admite Rangel
Perante os acontecimentos a leste, e tendo em conta que a Rússia conta com um enclave junto aos estados bálticos e Polónia, com acesso ao Mar Báltico, o Oblast de Kaliningrado, Rangel avisa que Moscovo tem ali 20 mil militares e que “pode haver uma tentação de a Rússia, a reboque de uma intervenção militar a decorrer na Ucrânia, de criar uma ligação por terra, cruzando territórios polaco e lituano”.
“Esta retórica expansionista de Putin não tem a ver com os russos mas com o seu poder político. Que fique claro que nunca haverá uma Europa sem a Rússia. Não há aqui nenhuma russofobia. Mas também que fique claro que a Europa não soube ler os sinais e teve poucos cuidados na sua relação com Moscovo”, lamenta Rangel, dando como exemplo as relações de dependência económica de alguns grandes países da UE.
“Quando a Alemanha não consegue estabelecer e concertar uma estratégia geopolítica e tem apenas uma estratégia geoeconómica, como é o caso da construção do North Stream [dois gasodutos vindos da Rússia]… E isso é notório na politica alemã, quer face à Rússia, quer face à China, assim como acontece com a França e a Itália”, acrescenta.
Resumindo, para Rangel, “de Putin nunca teremos uma capacidade ter uma relação construtiva de política global. Mas temos de encontrar um lugar para a Rússia“.