Com eleições marcadas para o próximo dia 5 de novembro, as campanhas presidenciais americanas começam a ganhar mais destaque. Após muita discussão, o primeiro debate presidencial entre a democrata Kamala Harris e o republicano, e ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump terá lugar a 10 de setembro no canal norte-americano ABC. Mas nem todos os detalhes logísticos são ainda conhecidos, nomeadamente no que diz respeito aos microfones, estão ainda definidos.
A equipa da ainda vice-presidente, Kamala Harris, negou recentemente uma informação publicada por Trump de que as duas partes tinham chegado a acordo sobre os microfones. O ex-presidente referiu, esta terça-feira, através de uma publicação nas redes sociais que as “regras serão as mesmas do último debate da CNN”, o que inclui os microfones sem som durante as intervenções do opositor.
Harris, e os democratas, estão a tentar reverter uma regra – imposta pela equipa de Biden no último debate presidencial, em junho deste ano – e que impõe que os microfones dos candidatos sejam silenciados quando não for a sua vez de falar. A restrição, aceite pelos republicanos, foi uma tentativa por parte dos democratas, na altura, de evitar que os candidatos se interrompessem constantemente e de impedir uma repetição do debate presidencial de 2020 (com os mesmos candidatos) que levou a vários memes na internet.
Agora, após a desistência de Biden, e num debate marcado contra Kamala, os republicanos querem que a regra continue ativa, mesmo que Trump afirme o contrário. Segundo alguns analistas, a equipa de campanha de Trump quer manter os microfones desligados uma vez que, no último debate, recebeu reações positivas pelo seu desempenho mais reservado e sem interrupções. O lado republicano quer que o seu candidato se concentre na discussão de temas chave e não em ataques pessoais que podem prejudicar a sua imagem.
Harris quer alterar a regra
Segundo os analistas, para a campanha de Harris, pode ser benéfico que os microfones permaneçam ligados durante todo o debate, uma vez que podem prejudicar o adversário político ao captar alguns comentários de Trump menos ponderados. Se o microfone de Trump não for silenciado enquanto Harris estiver a falar, a probabilidade de um insulto audível ou de uma interrupção aumenta.
Com esta estratégia, a equipa de Harris vê uma oportunidade para mostrar aos telespectadores um Trump sem filtros e que seria audível durante todo o tempo em que Harris estivesse a falar. “Segundo o nosso entendimento, os responsáveis por Trump preferem o microfone silenciado porque não acreditam que o seu candidato consiga agir como um presidente durante 90 minutos sozinho”, contou Brian Fallon, um porta-voz de Harris ao Politico.
Conhecido por insultar também os seus oponentes políticos, os comentários menos próprios de Trump – especialmente contra mulheres – podem ajudar a afastar alguma intenção de voto no candidato, especialmente por parte de eleitores indecisos. Uma estratégia que se poderá mostrar relevante numa eleição muito renhida. “A vice-presidente quer que o povo americano veja um Donald Trump sem restrições, porque é isso que vamos ter se ele voltar a ser presidente”, contou Ian Sams, da campanha de Harris, à CNN. “Acho que é importante que nesta eleição e neste momento o povo americano possa ver a escolha entre os dois candidatos no palco”, concluiu
Já de acordo com Ford O’Connell, um estratega republicano, acredita que a intenção democrata de retirar o som dos microfones é uma tentativa de afastar o debate das questões e desencadear momentos que se possam tornar virais. “Eles não têm a certeza de que podem ganhar nas questões, por isso o que procuram é qualquer forma possível de ter um momento viral”, explicou à BBC.
O momento viral de Harris em 2020
Kamala Harris não é uma estreante a momentos virais na internet, sobretudo durante um debate presidencial. Em 2020, contra o republicano e ex- vice-presidente Mike Pence, Harris tornou-se viral nas redes sociais ao não deixar que o adversário a interrompesse. “Sr. Vice-Presidente, estou a falar. … estou a falar”, referiu, na altura.
Kamala Harris aceitou oficialmente a nomeação do partido à corrida pela liderança da Casa Branca na Convenção Nacional Democrata, que teve lugar em Chicago, no passado dia 23 de agosto.