Os canais HalK TV, Tele 1 e Fox TV foram condenados a pagar multas e viram suspensos alguns dos seus programas “pelas informações e comentários que veicularam sobre o terramoto”, anunciou na rede social Twitter Ilhan Tasci, membro da RTUK, eleito pela oposição.
As estações Halk TV e a Tele 1 foram condenadas a uma multa correspondente a 5% do seu volume de negócios referente ao mês de janeiro, bem como à suspensão por cinco dias de um dos seus programas de informação diários.
Outra multa correspondente a 3% da faturação de janeiro também foi aplicada à Halk TV e à Fox TV.
Os três canais são conhecidos pela linha editorial crítica ao poder do Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, sendo a Halk TV especialmente próxima do principal partido da oposição, o Partido Republicano do Povo (CHP, social-democrata).
“Mais uma vez, a RTUK não nos surpreende ao sancionar-nos. Aqueles que chegaram ao poder criticando a repressão estão agora a proibir tudo, aguardando que lhes obedeçam. (…) A Halk TV continuará a informar e a Turquia não ficará sem notícias”, escreveu o diretor do canal, Cafer Mahiroglu, também através da rede social Twitter.
“Ao agir como um conselho de censura, a RTUK vai falhar na missão de esconder a verdade ao sancionar canais que relatam o infortúnio das pessoas nas regiões afetadas pelo terramoto. A RTUK está a cometer um crime ao ignorar o direito das pessoas a serem informadas”, reagiu, por sua vez, o presidente da Associação de Jornalistas da Turquia, Nazmi Bilgin, num comunicado divulgado à imprensa.
O Governo turco tem sido duramente criticado pela oposição e pela imprensa independente que têm apontado, segundo a sua apreciação, “uma ausência e uma falta de reação durante os primeiros dias” em várias localidades devastadas pelo terramoto e pelas réplicas que ocorreram posteriormente.
O sismo forte de magnitude 7,8 na escala de Richter atingiu o sudeste da Turquia e o norte da vizinha Síria.
Foi seguido de várias réplicas e de um novo terramoto de magnitude 7,5, que os especialistas disseram ter sido consequência do primeiro.
Na semana passada, Erdogan reconheceu “lacunas” na organização do socorro, argumentando, porém, com a “enorme intensidade” do sismo.
“A incompetência [do Governo] custou a vida de dezenas de milhares de compatriotas”, acusou o diretor do CHP, Kemal Kilicdaroglu.
A Turquia, que em outubro aprovou uma lei que pune a divulgação de “notícias falsas” com sentenças de até três anos de prisão, ocupa o 149.º lugar entre 180 países no Índice de Liberdade de Imprensa de 2022 publicado pela organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF).
Os sismos de 06 de fevereiro, com epicentro em território turco, e ao qual se seguiram várias réplicas, algumas delas fortes, provocaram pelo menos 44 mil mortos e mais de 100 mil feridos na Turquia e na Síria, números ainda provisórios e que deverão continuar a aumentar.
JSD // SCA