Enquanto mulher de Donald Trump, um milionário que ia ganhando cada vez mais destaque entre a elite nova-iorquina, muitos esperavam que Ivana se limitasse a dedicar-se aos três filhos que havia tido com o seu então marido e aproveitasse a sua fortuna. A realidade, no entanto, era outra: além de mãe a tempo inteiro, Ivana investia também o seu tempo em trabalhos de caridade enquanto geria um dos três casinos do seu marido, Trump´s Castle, administrava uma das suas propriedades, o Plaza Hotel e era vice-presidente de design de interiores da empresa Trump Organization.
Ivana trabalhou ainda lado a lado com o seu marido em muitos dos seus primeiros investimentos quando este estava apenas a começar a construir o seu império, como é o caso da Trump Tower em Manhattan, para qual terá, inclusive, escolhido a enigmática combinação de mármore rosa e bronze e do casino Trump Taj Mahal, em Atlantic City. A sua influência era notória em todas as decisões do marido cujo negócio de casinos terá até começado por incentivo de Ivana.
Um dos primeiros grandes projetos de Donald Trump foi a reconstrução do antigo Commodore Hotel e a mão da sua mulher não deixou de se fazer sentir. Dando uso à sua licença de design de interiores, Ivana supervisionou todo o processo de reconstrução do edifício e julgou “todos as almofadas, todas as mesas e cadeiras e todas as colunas de latão”, como disse à Vanity Fair em 1988. No documentário “Trump: Um Sonho Americano”, da Netflix, Ivana chega a ser descrita como “viciada no trabalho”, mas também “uma igual” ao lado de Trump.
Foi assim que, durante a década de 1980, o casal Trump foi ganhando dimensão na elite nova-iorquina e rapidamente construiu o seu império até ao ponto de ser considerado, por vários órgãos de comunicação, o “casal poderoso” da cidade que nunca dorme. Ivana ocupou um importante papel numa fase crucial da carreira do ex-presidente dos EUA e, de acordo com a própria, a relação de amizade e confidência de ambos ter-se-á mantido mesmo após o seu divórcio, oficializado em 1992.
De acordo com o livro que escreveu em 2017, “Raising Trump”, Ivana mantinha um contacto regular com o seu ex-marido, falando com ele cerca de uma vez por semana e, segundo o que testemunhou ao The New York Post em 2016, ano da eleição de Trump como 45º presidente dos Estados Unidos, era tanto uma apoiante como uma conselheira. “Sugiro algumas coisas (a Donald Trump)”, contou ao jornal. “Falamos antes e depois das suas aparições públicas e pergunta-me o que eu acho”. Segundo Ivana, o seu principal conselho era que Donald “estivesse mais calmo”. “Mas Donald não consegue ficar calmo (…) ele é muito franco, diz as coisas como são”, concluiu.
Enquanto era ainda presidente, Trump terá mesmo chegado a convidar Ivana para ser a embaixadora do seu país de nascença, a atual Chéquia, o que terá recusado por acreditar já ter “a vida perfeita”, como explicou numa entrevista à CBS News. “Ele (Donald Trump) disse-me: ‘Ivana, se quiseres (o título de embaixadora), eu dou-to”, conta ao órgão de comunicação. A proposta foi vista por muitos como uma prova da proximidade do então presidente com a sua primeira mulher. Durante uma aparição no “Good Morning America” em 2017, Ivana chegou a sublinhar, ao comentar a relação próxima que tinha com o ex-marido, que era “a primeira esposa de Trump”, acrescentando, apesar de Trump estar já casado com a atual mulher, Melania Trump, que era, tecnicamente, “a primeira-dama”. A afirmação controversa terá, inclusive, atraído uma resposta do porta-voz de Melania.
A vida antes de Donald Trump
Ivana nasceu a 20 de Fevereiro de 1949, em Zlín, Morávia, região pertencente à antiga Checoslováquia e atual Chéquia. Aqui terá começado a sua jornada pelo mundo do desporto quando integrou a equipa nacional júnior de esqui que lhe permitiu viajar e descobrir a realidade além-fronteiras.
O seu primeiro-passo em direção à vida da fama é dado em 1970 quando foi chamada para participar na série de televisão infantil checoslovaca, Pan Tau. As ambições de Ivana, no entanto, voavam mais alto e era além das fronteiras do país a que chamava casa que a jovem atriz via o seu futuro. Posto isto, e assim que surgiu a oportunidade, Ivana casa-se com o instrutor de esqui austríaco, Alfred Winklmayr, o que lhe permite obter a cidadania de um país a partir do qual poderia viajar para qualquer lugar do mundo sem obstáculos ou barreiras.
Assim que obteve o seu passaporte, o casamento rapidamente terminou. Ivana terá, depois, dado início a uma relação amorosa com o letrista e dramaturgo checo Jiří Štaidl, mas a sua morte precoce num acidente em 1973, levou-a a partir rumo ao Canadá, onde se terá envolvido com o artista visual Jiři Syrovatka e iniciado o seu percurso nas passerelles, um trabalho que nunca considerou uma carreira, segundo o que conta, em 1975, à Montreal Gazette. Carreira ou não, foi a percorrer as passerelles que foi convidada para promover os Jogos Olímpicos de Verão de Montreal, em 1976, o mesmo ano em que terá conhecido Donald Trump.
O casamento e o divórcio
Durante os 15 anos em que se mantiveram casados, Ivana e Donald Trump foram frequentemente manchete de jornais, revistas e tabloides enquanto o casal poderoso de Nova-Iorque que dominava a elite da cidade. O seu divórcio não deixou, por isso, de ser igualmente documentado pelos órgãos de comunicação que, durante três anos, entre 1989 e 1992, se alimentaram do difícil processo de separação de ambos.
A vida anteriormente considerada quase perfeita do casal – milionários e a viver em Nova Iorque com os seus três filhos Donald Jr., Ivanka e Eric – chegou a um fim tempestuoso. Em 1989, durante as férias de Natal da famíla em Aspen, Colorado, as discussões intensificaram-se depois de Ivana ter apanhado Donald Trump com Marla Maples, que viria depois a ser a sua segunda mulher. O escândalo rapidamente saiu em revistas e jornais de todo o mundo, mas só depois de três anos de muita negociação e ataques trocados é que o ex-casal formalizou o seu divórcio. Tal só aconteceu, no entanto, depois de Ivana assinar um acordo de confidencialidade, recebendo, em troca, e de acordo com o The New York Times, 14 milhões de dólares, uma mansão de 45 quartos no Connecticut, um apartamento na Praça Trump e o uso de Mar-a-Lago, Palm Beach, Flórida, durante um mês por ano.
A partir daí, e embora se tenha casado mais duas vezes durante a sua vida, Ivana tornou-se um exemplo da mulher divorciada independente, tendo publicado, inclusive, em 1995 um livro intitulado “The Best Is Yet to Come: Coping with Divorce and Enjoying Life Again” (ou em português, O Melhor Está Ainda Por Vir: Lidar com o Divórcio e Apreciar a Vida Novamente). Em adição, Ivana teve ainda uma participação especial no filme de 1996 “The First Wives Club”, no qual diz a um grupo de mulheres divorciadas descontentes: “Não fiquem irritadas, fiquem com tudo!”, aconselhando a que as mulheres retirassem o máximo possível dos maridos durante o divórcio.
Nos anos que se seguiram, Ivana não abandonou o seu espírito empreendedor e continuou, mesmo sem Donald Trump a seu lado, a destacar-se no mundo dos negócios dedicando-se a criar coleções de roupa, jóias e produtos de beleza, enquanto investia também no seu país de origem com a compra de 33% do segundo maior jornal diário do país.
Ivana morreu no seu apartamento, em Nova Iorque, esta semana, a 14 de julho, com 73 anos depois de ter sido encontrada inconsciente e sem resposta pelos paramédicos. A polícia está ainda a investigar a causa concreta da sua morte. Num comunicado na sua plataforma Truth Social, o ex-presidente lembrou Ivana como uma “mulher maravilhosa, linda e incrível, que levou uma vida ótima e inspiradora”. “O seu orgulho e alegria eram os seus três filhos, Donald Jr., Ivanka e Eric”, acrescentou. “Ela estava tão orgulhosa deles, como todos nós estávamos tão orgulhosos dela. Descansa em paz Ivanka”.