Quão estável é o sistema solar? Se considerarmos apenas o curto período de tempo em que os humanos habitaram a Terra, o sistema solar é bastante estável; no entanto, tal só é possível devido ao complexo equilíbrio atingido pelos planetas que orbitam o Sol ao longo de muitos, muitos anos e pelo papel que cada um desempenha neste sistema.
Se o sistema no qual vivemos pode ser considerado estável, que alterações seriam necessárias para o destabilizar? Numa tentativa de responder mais concretamente à questão, os investigadores Garett Brown e Hanno Rein, da Universidade de Toronto, no Canadá, desenvolveram um conjunto de cerca de 3 mil simulações de possíveis alterações às órbitas dos planetas do sistema solar de modo a perceberem quais as consequências e de que forma estas poderiam afetar o equilíbrio do mesmo. “Descobrimos que pequenas perturbações nas órbitas dos planetas externos são transferidas entre planetas, aumentando a probabilidade de que o sistema planetário interno se desestabilize”, escreveram no seu relatório publicado recentemente na Arxiv.
A maioria das simulações resultou em algum tipo de consequência significativa para o sistema solar. As boas notícias são que, ainda assim, cerca de 960 cenários analisados pelos investigadores não deram origem a mudanças que possam ser consideradas significativas para o equilíbrio do sistema. Além disso, quaisquer consequências que pudessem advir da alteração da órbita de um planeta, fossem estas negativas ou não, só se fariam sentir muitos milhões de anos mais tarde, pelo que, mesmo no pior cenário, não resultaria no imediato colapso do sistema solar. O estudo examinou, inclusive, os efeitos com um intervalo de até 4,8 mil milhões de anos depois. “Essas perturbações fracas não destroem o sistema solar imediatamente, apenas o agitam um pouco e só nos milhões ou mil milhões de anos seguintes é que algo fica instável”, explica à New Scientist Rein, acrescentando que essas alterações são, ainda assim, “fortes o suficiente para perturbar de forma mensurável o estado dinâmico do sistema”.
As más notícias são que o pior dos cenários pode resultar no fim do sistema solar como o conhecemos e tudo o que tem de acontecer para que isso aconteça é a órbita do planeta mais distante do Sol, Neptuno, se alterar em apenas 0,1%. De acordo com uma das simulações, a aproximação de uma estrela do sistema solar e, consequentemente de Neptuno, poderia ser suficiente para pôr fim ao complexo equilíbrio que existe entre os planetas e o Sol.
Ainda de acordo com a simulação de Brown e Rein, bastava que uma estrela, que poderia ser, inclusive, menor que o próprio Sol, se cruzasse com o sistema solar a cerca de 23 mil milhões de quilómetros do mesmo para que a órbita de Neptuno se alterasse o suficiente e todo o sistema solar sentisse as suas consequências. Isto porque, se Neptuno se desviasse apenas 0,1%, todos os restantes planetas do sistema sentiriam um impacto nas suas próprias órbitas, uma espécie de efeito em bola de neve que conduziria ou à colisão dos mesmos ou à sua expulsão do sistema solar.
De entre as várias simulações consideradas pelos investigadores, a mais provável de causar instabilidade a longo prazo no sistema solar não foi, no entanto, o cenário da alteração da órbita de Neptuno, considerado o mais devastador a nível de amplitude, mas aquele que envolve as órbitas de Júpiter e Mercúrio e que pode resultar, de acordo com os dados apresentados, na colisão deste último planeta com Vénus, o Sol ou até a Terra.
Periélio é o nome dado ao ponto mais próximo da órbita de um planeta ao redor do Sol. Segundo o estudo, o periélio de Mercúrio move-se cerca de 1,5 graus a cada mil anos, um valor que, com o tempo, e de acordo com os dados apresentados, pode levar a que, eventualmente as órbitas deste planeta e de Júpiter se sincronizem. Caso isto aconteça, as possibilidades de o planeta mais pequeno do sistema solar ser ejetado ou de entrar em colisão com Vénus, o Sol ou mesmo a Terra aumentariam significativamente. Ainda assim, e embora seja a simulação mais provável, as hipóteses de acontecer continuam a não ser suficientes para que seja uma preocupação.
Nas restantes simulações nem tudo resulta em destruição, mas pelo menos 26 implicam colisões entre Mercúrio e Vénus, uma leva à colisão da Terra com Marte e algumas terminam com Urano, Neptuno ou Mercúrio a serem expelidos do sistema solar.