Uma nova investigação realizada por investigadores da Universidade do Arizona, em Tucson, nos EUA, que reconstruiu as primeiras semanas da pandemia, concluiu que existem “fortes evidências” de que o vírus não tenha surgido em laboratório. Pelo contrário, afirma o estudo, terá passado para os humanos através de animais infetados, no mercado de animais vivos de Wuhan.
Michael Worobey tem investigado origens de vírus e é o principal cientista deste estudo, publicado na última quinta-feira na revista Science, que sugere ainda que o doente zero terá sido uma vendedora de marisco que trabalhava nesse mercado, sendo que essa mulher relatou os primeiros sintomas a 11 de dezembro de 2019.
A investigação dá conta de que 10 dos 19 primeiros doentes avaliados por médicos em hospitais de Wuhan trabalhavam no mercado ou tinham lá estado. De facto, de acordo com Worobey, que traçou um cronograma a partir da análise de relatórios, relatos e dados genéticos dos primeiros doentes, grande parte dos casos de infeção que reportam a dezembro de 2019 têm uma relação, mesmo que indireta, com o mercado de Wuhan.
“A maioria dos primeiros casos sintomáticos estava ligada ao mercado de Wuhan, mais propriamente à secção oeste, onde cães-guaxinim estavam enjaulados” que transportavam o SARS-CoV-2, sublinha ainda a investigação.
O investigador referiu ainda, citado pelo The New York Times, que “metade dos primeiros casos está relacionada com um lugar do tamanho de um campo de futebol” na “cidade de 11 milhões de habitantes”, acrescentanto que se torna “muito difícil explicar esse padrão se o surto não tiver começado no mercado”.
As conclusões deste estudo desconstroem os resultados de uma investigação anterior, que referia que o primeiro doente teria sido um contabilista sem qualquer ligação ao mercado. Na verdade, o homem de 41 anos adoeceu a 16 de dezembro e não a 8 de dezembro, como se pensava inicialmente, descreve o novo estudo.
Os primeiros sintomas reportados pelo doente estavam, segundo a investigação, relacionados com um problema dentário que o homem teria e não com a Covid-19, informação corroborada pelos registos médicos, que indicam que os sintomas relativos ao novo coronavírus, como febre, começaram apenas a 16 de dezembro.
“Isso indica que o doente foi infetado por transmissão comunitária depois de o vírus se ter começado a alastrar no mercado de Wuhan”, diz o estudo. A investigação anterior contribuiu para intensificar as especulações de que o vírus poderia ter escapado de um laboratório.
À CNN, o investigador referiu que “há uma grande seta vermelha a piscar e a apontar para o mercado de Wuhan como o lugar mais provável para a origem da pandemia”, afirmando que “o vírus não veio de outra parte de Wuhan e chegou depois ao mercado”.
Um dos investigadores da pandemia escolhidos pela Organização Mundial da Saúde já elogiou o trabalho de Worobey, assim como outros especialistas, mas a origem da pandemia ainda permanece um mistério e descobri-la pode vir a ser, ainda, um trabalho de anos.