É mais um momento de tensão relacionado com a família real britânica, só que desta vez não envolve diretamente os protagonistas de sempre – Harry e Meghan – mas sim o primogénito de Diana, William. Esta quinta-feira, dia 20, foi publicado um inquérito que confirma que o jornalista da BBC Martin Bashir enganou o irmão da princesa, Conde Spencer, para conseguir a controversa entrevista com ela, em 1995, dois anos antes da sua morte.
William não tardou a publicar uma dura crítica à estação de televisão, referindo, num vídeo divulgado nas redes sociais, que sente uma “tristeza indescritível” por perceber que a BBC contribuiu “significativamente” para o desenvolvimento do “medo, paranóia e isolamento” da princesa Diana nos seus últimos anos de vida e que a própria estação comercializou uma “falsa narrativa” sobre a mãe.
No fim do ano passado, foi anunciado pela própria estação televisiva que essa conversa, vista por mais de 20 milhões de espectadores e em que foi proferida a célebre frase “éramos três, logo era um casamento que tinha gente a mais”, seria, uma vez mais, investigada a fundo, para se perceber se, de facto, teria sido realizada de forma imprópria.
Essa conversa marcou um ponto de viragem na história da família real britânica, já que foi nesse dia que Diana contou publicamente que o príncipe Carlos mantinha há vários anos uma relação extraconjugal com Camilla Parker-Bowles e em que revelou detalhes do seu casamento. Mas, na altura, muitas críticas surgiram relativamente à forma como a entrevista foi feita e houve quem garantisse que esse encontro só aconteceu porque o jornalista teria utilizado documentos forjados para sugerir que o pessoal do palácio era pago para espiar Diana e conspirar contra ela, e que os serviços secretos britânicos tencionavam matá-la.
O relatório publicado agora revela que Bashir agiu de maneira fraudulenta e que a emissora pública do Reino Unido encobriu o caso. “O senhor Bashir enganou-o e induziu-o a marcar um encontro com a princesa Diana”, lê-se no relatório, relativamente ao encontro do jornalista com o irmão de Diana. “Bashir agiu de forma inadequada e violou gravemente a edição de 1993 das Diretrizes dos Produtores sobre negociação direta”, diz o documento, assinado pelo ex-juiz do Supremo Tribunal do Reino Unido John Dyson, que conduziu a investigação.
BBC desculpa-se, mas não chega
A BBC já apresentou um pedido de desculpas “total e incondicional” pela entrevista, com uma declaração em nome do diretor-geral da estação, Tim Davie. “Embora a BBC não possa voltar atrás no tempo depois de passado um quarto de século, podemos fazer um pedido de desculpas total e incondicional”.
Contudo, em comunicado, o príncipe William referiu que “a maneira enganosa como a entrevista foi obtida influenciou substancialmente” o que Diana disse e que “contribuiu imensamente para piorar a relação” dos pais, ferindo “incontáveis outras pessoas”.
“O que mais me entristece é que se a BBC tivesse investigado adequadamente as queixas e preocupações levantadas pela primeira vez, em 1995, a minha mãe teria sabido que foi enganada”, garante William, que afirma que a mãe “foi engada não apenas por um repórter desonesto, mas pela direção da BBC, que olhou para o lado em vez de fazer as perguntas difíceis “, acrescenta, ainda, o Duque de Cambridge.
A entrevista original foi exibida no programa Panorama, que ainda está no ar e que publicou, esta quinta-feira, um documentário sobre toda a polémica. “É minha opinião firme que o programa Panorama não tem legitimidade e não deve voltar a ser exibido”, afirma William.
O irmão de William, o príncipe Harry, também já fez uma declaração relativamente à polémica, referindo que “o efeito cascata de uma cultura de exploração e de práticas antiéticas acabou por tirar a vida” à mãe. “Para aqueles que assumiram de alguma forma a responsabilidade, obrigado por isso. Esse é o primeiro passo em direção à justiça e à verdade. No entanto, o que me preocupa profundamente é que práticas como estas – e ainda piores – ainda são comuns hoje”, diz o Duque de Sussex, concluindo que Diana “perdeu a vida por causa disso e nada mudou”.
Esta quinta-feira, Bashir referiu, num comunicado enviado à agência noticiosa PA Media, que é “entristecedor” saber que a polémica permitiu “ofuscar a corajosa decisão da princesa em contar a sua história”. Apesar de se ter desculpado por ter utilizado extratos bancários falsos, garantiu que os documentos não influenciaram a decisão de Diana em dar a entrevista. “Foi uma coisa estúpida de se fazer e uma ação que lamento profundamente”, afirmou. “Mas mantenho absolutamente a evidência que apresentei há um quarto de século, e novamente mais recentemente”, acrescenta, referindo, ainda, continuar orgulhoso da entrevista.