Cientistas detetaram, numa câmara inacessível da Central Nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, atividade que pode resultar numa reação nuclear em cadeia. A situação está a ser acompanhada permanentemente para entender se é necessário algum tipo de intervenção que, neste cenário, seria perigosa.
Durante a monitorização das ruínas, os investigadores observaram, nas leituras, um aumento de neutrões vindos dessa câmara, a sala sub-reatora 305/2. Este aumento tem vindo a ser registado desde 2016 e estima-se que vai em 40 por cento. Isto significa que há a possibilidade de haver uma reação de fissão nuclear no interior.
Contudo, já houve picos deste género que acabaram por ser resolvidos, sem ser necessária qualquer intervenção. Apesar de ainda não haver certezas, os cientistas mantêm-se positivos. Neil Hyatt, da Universidade de Sheffield, no Reino Unido, disse à NewScientist que se está “a falar de taxas muito baixas de fissão e, por isso, não é como se fosse um reator nuclear efervescente”. A estimativa da quantidade de material físsil presente na câmara significa que provavelmente não haverá uma explosão. “Mas não temos certezas”, salientou.
“Já vimos situações como esta, com outros resíduos de combustível. A taxa base de neutrões aumentou, estabilizou e diminuiu novamente. É isso que esperamos que aconteça”, referiu.
No caso da situação não se desenvolver como esperado e for necessária uma intervenção, a falta de acesso à câmara complica as operações. Seria necessário perfurar a sala e borrifá-la com um líquido com nitrato de gadolínio na sua constituição, uma substância que absorveria o excesso de neutrões, complicando o processo que leva à fissão.
A falta de acesso a esta câmara é o resultado da explosão que, em 1986, derrubou paredes, bloqueando vários corredores e entradas para as salas. Da mesma maneira, os materiais do Reator 4 caíram às toneladas espalhando-se pelas instalações. Além disso, o calor que foi gerado no acidente derreteu areia nas paredes do reator, também compostas por aço e betão, formando assim uma substância parecida com a lava. Esta substância escorreu para os pisos inferiores, chegando, acredita-se, à câmara em questão. No entanto, não há maneira de o confirmar porque a câmara não pode ser observada.
Porquê agora?
Não é certo, mas desconfia-se que tem a ver com a adição de uma nova estrutura, que veio a cobrir a antiga. Antes, havia apenas uma construída à pressa sobre o reator destruído, que permitia a entrada de quantidades elevadas de água, suprimindo as reações na sala 305/2. Uma nova estrutura, instalada em 2016 e com aço na sua constituição, já não o faz. Esta já foi adicionada ao local com o intuído de conter a libertação de radioatividade, proteger o reator de influências externas, facilitar a sua desmontagem, e prevenir a entrada de água. “Este é um lembrete de que o problema não está resolvido, apenas estabilizado”, acrescentou Hyatt.
O acidente nuclear de Chernobyl, aconteceu em abril de 1986.