Desde terça-feira que o mundo está com os olhos postos no Canal do Suez e no MV Ever Given, o gigante dos oceanos com capacidade para 20 mil contentores marítimos que, depois de fustigado por uma tempestade de areia e rajadas de vento de 50 quilómetros por hora, se atravessou a meio da passagem entre o Médio Oriente e a Europa e está a bloquear o tráfego.
As operações para fazer o porta-contentores voltar a flutuar multiplicam-se, mas o fracasso dos esforços feitos até agora obriga a manter fechada aquela que é considerada uma rota marítima fundamental para o comércio mundial. Há já cerca de 200 embarcações a congestionar toda a região – e na ausência de avanços na operação de reboque do navio, o setor está já a preparar-se para um encerramento bem mais prolongado daquela passagem, o que ameaça prejudicar as cadeias de abastecimento do comércio mundial.
Os números em causa são estratosféricos. O tráfego marítimo diário através daquele canal está avaliado em qualquer coisa como 8,1 mil milhões de euros, segundo a primeira estimativa da Lloyd’s List Intelligence, revista especializada do setor – mas é um valor que tem variações consoante o sentido de navegação: ou seja, o tráfego para o ocidente tem um custo estimado de € 4,3 mil milhões; se for para o oriente, fica-se nos €3,8 mil milhões, precisa o El País. Calcula-se ainda que as mercadorias em contentores representem cerca de 26% do tráfego do canal, pelo que se antecipa que os atrasos terão um impacto bem significativo.
Rota alternativa?
É por isso que, neste momento, as mais importantes companhias de navegação, que costumam usar aquela rota, estão a avaliar se confiam que o Ever Given vai ser desencalhado rapidamente – ou se devem antes tomar a rota alternativa, que implica o contornar o Cabo da Boa Esperança, na África do Sul, como reconheceu à Associated Press Lars Jensen, diretor executivo da SeaIntelligence Consulting, empresa especializada no transporte marítimo de contentores, com sede na Dinamarca.
Ao que explicou, trata-se de uma opção que atrasa a viagem em cerca de uma semana – o que justifica por que razão se acumulam tantos navios a contar que o imbróglio se resolva rapidamente. Um impacto que se traduz sempre em dinheiro e nem o Egipto, país que controla aquela passagem, escapa, já que a infraestrutura representa uma das suas principais fontes de entrada de moeda estrangeira.
Combustível e… papel higiénico
É a pensar nestes números e no seu impacto financeiro que, além dos cerca de 200 navios em fila a aguardar os próximos desenvolvimentos, há também pelo menos sete rebocadores a empurrar o navio de ambos os lados, para tentar colocá-lo de novo à tona. Além disso, pelo menos duas dragas continuam a tentar remover a areia e o lodo acumulado em parte da parede do canal contra a qual o navio encalhou – tudo sem sucesso.
Agora, o impacto de todo o bloqueio pode não ficar por aqui e aumentar exponencialmente, tendo em conta que, na fila, estão pelo menos 10 petroleiros que transportam cerca de 13 milhões de barris de petróleo do Médio Oriente para a Europa – além de outras nove embarcações que levam outros derivados de combustível, como o biodiesel. Mas não só: o cenário de escassez de papel higiénico, um verdadeiro pesadelo já sentido há um ano, pode regressar, depois de saber que, como confirmou à Bloomberg Walter Schalka, que dirige a empresa produtora de pasta de madeira Suzano SA, aquela é uma das matérias-primas em trânsito.