“A cobertura noticiosa combinada dessas 10 crises foi menor do que a realizada sobre a candidatura do cantor Kanye West à Presidência dos Estados Unidos ou do festival da Eurovisão. Além disso, receberam 26 vezes menos atenção – como notícias publicadas online – do que o lançamento do PlayStation 5”, alertou hoje a organização não-governamental (ONG) em seu relatório.
Burundi, o quinto país mais pobre do mundo, teve a crise humanitária mais ignorada em 2020. O seu território viveu eventos climáticos extremos, instabilidade política e insegurança que desde 2015 causaram o deslocamento de mais de 135.000 pessoas, 83% delas devido a desastres naturais, de acordo com a Care Interntional.
Segundo o documento da ONG, em segundo lugar na lista de esquecidos dos media está a Guatemala, assim como a República Centro-Africana, que foi “devastada por décadas de conflito armado e pobreza galopante, uma série interminável de desastres naturais e uma pandemia”.
De acordo com a Care International, a República Centro-Africana está a dirigir-se para “um abismo” com mais da metade de sua população dependente de ajuda humanitária em 2021.
Madagáscar ocupa o quinto lugar – atrás do conflito na Ucrânia -, porque apesar de todos os anos milhares de malgaxes serem afetados por catástrofes naturais, estes factos são “raramente noticiados” nos meios de comunicação internacionais.
O Malauí, no sexto lugar na lista, também sofre de calamidades naturais, pragas e pobreza extrema que, juntamente com a pandemia do novo coronavírus, estão a levar ao limite uma “já stressada” população.
De acordo com relatórios da polícia do Malauí, 2020 viu um aumento de 57% nas taxas de suicídio numa população de cerca de 18 milhões.
O Paquistão está em sétimo e Mali em oitavo, com ataques de violência ‘jihadista’, desastres naturais e pobreza generalizada que, apesar de sua gravidade, também não chegam ao noticiário internacional.
A seguia à Papua Nova Guiné, a Zâmbia também não recebeu atenção suficiente dos media em 2020, apesar do facto de 56% da população da Zâmbia precisarem de ajuda humanitária como resultado de severas secas e inundações.
A ONU prevê que pelo menos 235,4 milhões de pessoas em todo o mundo precisarão de ajuda humanitária em 2021, num contexto em que os países doadores estão a diminuir o seu auxílio devido à covid-19.
“Esta é uma tendência preocupante, dado que em 2020 a maioria dos apelos de financiamento para crises humanitárias não foram nem 50% satisfeitos”, disse Care.
“Quando uma crise não chega às primeiras páginas, muitas vezes também não consegue financiamento suficiente”, acrescentou.
CSR // ANP