Foram quase oito semanas de deslumbre. Com a cidade livre de coronavírus, como quem diz, sem nenhuma infeção transmitida localmente. Devagarinho, a vida estava a voltar ao normal. Empresas e escolas reabriram, as pessoas voltavam ao trabalho e os parques da cidade abriram à população.
Mas eis que este cheirinho a normalidade foi abafado num ápice desde que, há pouco mais de uma semana, se confirmou um surto de novas infeções em Fengtai, um bairro no sudoeste de Pequim. Em poucos dias, o número de casos na capital chinesa alcançava as duas centenas. A maioria trabalhava ou visitara Xinfadi, o amplo mercado de abastecimento da cidade, onde chegam frutas, legumes, carne e frutos do mar.
“Disseram que o vírus vinha no salmão importado. Mas também já ouvi que o problema foi a tábua onde se corta o peixe no mercado, que estava mal lavada”, conta um português que se mudou para a China há já seis anos e vive em Pequim há três. Resultado? “De um dia para o outro fecharam tudo outra vez. Sem hesitar.”
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Francisco Duarte, 31 anos, treinador de futebol, assume que o regresso das restrições não gerou qualquer contestação. Pelo contrário. “Foi óbvio para todos que estavam com medo que tudo voltasse outra vez. Ninguém desvalorizou estes casos, porque se sabe que podem tomar proporções tremendas.”
“Regresso ao trabalho no fim do mês? Vamos ver…”
Rapidamente também as autoridades chinesas lançaram uma campanha para rastrear e testar as mais de 350 mil pessoas que estiveram no dito mercado desde 30 de maio. O número inclui ainda os que mantêm contacto próximo com quem lá esteve ou vivem por perto. E em poucos dias, a capital de 21 milhões de pessoas foi novamente colocada debaixo de uma espécie de bloqueio parcial, com bairros inteiros fechados e grandes restrições nas viagens aéreas.
“Não podemos pensar que só toca aos outros”, sublinha ainda Francisco que se resguardou de novo em casa. “Não que seja propriamente imposto, são recomendações, mas nem passaria pela cabeça de alguém aqui não o cumprir.” Isso, tal como usar máscara, desinfetar as mãos regularmente e manter a distância social.
“Por exemplo, durante muito tempo, ninguém de fora dos condomínios podia entrar. Tivemos de fazer um cartão a comprovar onde morávamos e só entravam moradores nos prédios. A medida foi aliviada, entretanto, mas agora voltamos de novo ao mesmo.”
Também não houve registo de ajuntamentos fora do estipulado. “Por exemplo, até podia estar um grupo de oito ou nove num restaurante, mas nunca com mais de duas pessoas mais próximas. Ou rapidamente um funcionário do estabelecimento nos chamava a atenção”.
Acrescente-se ainda que a videovigilância espalhada um pouco por toda a cidade fez o resto. Agora já se anuncia o regresso a alguma normalidade, e ao trabalho, no fim do mês. Francisco não está muito convencido disso. “Em duas semanas, foram detetados duzentos novos casos. Vamos ver como está tudo nessa altura.”