Era um centro de vida selvagem, agora é um cemitério de animais. As imagens mostram um Jim Geddes, cofundador do Hanson Bay Wildlife Santuary, absolutamente destroçado. “Desculpem, não consigo”, diz para os operadores de câmara da ABC, enquanto sai de cena para não se verem as lágrimas que, adivinhamos, já lhe correram cara abaixo várias vezes nos últimos dias, desde que grande parte daquele lugar único no mundo ficou praticamente reduzido a cinzas.
Situada na parte ocidental da ilha Kanguroo, a 210 quilómetros de Adelaide, aquela que é casa dos principais ícones da fauna australiana está, em boa parte, pintada a cinza e negro – qualquer coisa como 150 mil hectares foram arrasados pelo fogo. Segundo as contas feitas no local, estima-se que terão desaparecido 25 mil coalas – mas não só. Ao todo, as chamas que pareciam intermináveis nas últimas semanas terão levado consigo perto de mil milhões de animais nativos, entre mamíferos, aves e répteis. Os cangurus, obviamente, também não escaparam. Daí que, além do combate direto às chamas e a evacuação de edifícios que possam estar em risco, a Austrália seja um país também muito empenhado em salvar os seus animais. E que está a aceitar ajuda de tudo e todos, venha de onde vier.
Stuart Blanch, cientista ambiental e um dos responsáveis pelo setor de reflorestação da World Wide Fund Australia – que está também a aceitar a ajuda que queira dar – não faz um ponto de situação muito animador: os coalas devem ser considerados sob ameaça de extinção, os ratos-cangurus também. As imagens destes bichos calcinados, um pouco por todo o lado, representam na perfeição o apocalipse de que já se fala: ou seja, mesmo com todas as condições e o apoio necessário a um grande programa de reflorestação, “o processo de recuperação demorará pelo menos 10 anos”, estimou, citado pela Sky News.
Para contrariar este cenário, o país está a tentar de tudo. Desde pôr meia população a tricotar bolsas e mantas para aquecer os animais recolhidos por quem estava por perto, até lançar cenouras e batata-doce a partir de helicópteros para alimentar os animais famintos. Os militares estão igualmente a fazer fila para dar leite aos coalas bebés à mão, ou seja, à seringa.
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Há ainda voluntários a vasculhar a ilha à procura de pedaços de árvore intocados pelo fogo, que possam servir de alimento. Ao mesmo tempo, vão deixando baldes de água pelo caminho, para que possam hidratar um ou outro animal que tenha escapado.
E há a comovente história de Julie Willies e do seu companheiro Gary Wilson que, como mostram as fotos em baixo, montaram um centro de acolhimento temporário de cangurus na sua casa em Wytaliba, Austrália. Desde novembro, já trataram de 50 a 60 bichos daqueles.
De resto, não falta por onde ajudar: até o Zoo de Lisboa acaba de lançar a sua propria recolha de fundos para ajudar os coalas afetados pelos fogos. Assim, até março os visitantes poderão contribuir colocando dinheiro em vários mealheiros que vão estar espalhados pelo Jardim Zoológico – que vai também contribuir com uma parte do dinheiro do seu fundo de conservação, alimentado com as receitas da bilheteira.
E ainda:
WIRES, uma organização sem fins lucrativos de resgate da vida selvagem que está a cuidar de animais nativos doentes, feridos e órfãos
World Wildlife Fund Australia, que está a direcionar os seus esforços para a conservação do coala
GoFundMe do Hospital Port Macquarie Koala, que resgatou e está a tratar dezenas de coalas que sofreram queimaduras graves – e está ainda a instalar máquinas de água automáticas em áreas queimadas para fornecer água à fauna e a estabelecer um programa de criação de coalas selvagens, para garantir a sobrevivência das espécies
RSPCA New South Wales, que está a ajudar a resgatar e tratar animais de estimação e animais selvagens de áreas ameaçadas.