Para Andrés Malamud, não há condições políticas e sociais para marcar eleições antecipadas na Venezuela, depois de o líder do Parlamento, Juan Guaidó, se ter autoproclamado Presidente interino, considerando que Nicolas Maduro não tem legitimidade para renovar o seu mandato.
Em declaração escrita à agência Lusa, o investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, especialista em política latino-americana, diz que enquanto os militares estiverem do lado de Nicolas Maduro, o regime subsistirá e qualquer tentativa de marcar novas eleições será frustrada.
“Enquanto as forças armadas apoiarem o governo, o regime segue, porque é um regime militar”, disse Andrés Malamud, que pertence à Associação Latino-Americana de Ciência Política.
Na atual situação e perante muita incerteza, para Malamud, estão em aberto vários cenários para o futuro de Nicolas Maduro, mas o mais provável é que o Presidente reeleito em maio de 2018 permaneça no poder, obrigando Guaidó a ceder nas suas intenções.
Contudo, o investigador considera ainda três outras hipóteses, que não descarta: Nicolas Maduro ter de sair do país, por pressão pública, exilando-se num país que ele considera ser aliado, como, por exemplo, a Rússia ou a Turquia; ser preso, se as autoridades se colocarem ao lado do novo governo de transição; ou ainda ser morto, por um opositor radical que tome a justiça em mãos.
Juan Guaidó autoproclamou-se na quarta-feira Presidente interino da Venezuela, perante milhares de pessoas concentradas em Caracas.
Os Estados Unidos, a Organização dos Estados Americanos (OEA), a maioria dos países da América Latina, à exceção de México, Bolívia, Nicarágua e Cuba — que se mantêm ao lado de Maduro, que consideram ser o Presidente democraticamente eleito da Venezuela -, já reconheceram Juan Guaidó como Presidente interino da Venezuela.
Rússia, China, Turquia e Irão manifestaram também o seu apoio a Nicolas Maduro.
A União Europeia defendeu a legitimidade democrática do parlamento venezuelano, sublinhando que “os direitos civis, a liberdade e a segurança de todos os membros da Assembleia Nacional, incluindo do seu Presidente, Juan Guaidó, devem ser plenamente respeitados” e instando à “abertura imediata de um processo político que conduza a eleições livres e credíveis, em conformidade com a ordem constitucional”.
Da parte do Governo português, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, expressou na quarta-feira pleno respeito pela “vontade inequívoca” mostrada pelo povo da Venezuela, disse esperar que Nicolás Maduro “compreenda que o seu tempo acabou” e apelou para a realização de “eleições livres”.
A Venezuela, país onde residem cerca de 300.000 portugueses ou lusodescendentes, enfrenta uma grave crise política e económica que levou 2,3 milhões de pessoas a fugir do país desde 2015, segundo dados da ONU.
Lusa