Eleito em outubro passado defendendo uma agenda anticorrupção, o chefe de Estado brasileiro teve os seus primeiros dias de Governo ensombrados por informações sobre transações atípicas atribuídas a Fabrício Queiróz, um antigo assessor parlamentar do seu filho mais velho e senador eleito Flávio Bolsonaro.
Fabrício Queiroz e Flávio Bolsonaro foram citados num relatório do Conselho de Controlo de Atividades Financeiras (Coaf), um órgão público que tem como finalidade identificar ocorrências suspeitas de atividade ilícitas relacionadas com a prática de branqueamento de capitais, que veio a público em dezembro passado.
A primeira suspeita indicava a existência de transações atípicas no valor de 1,2 milhões de reais (280 mil euros) realizadas por Fabrício Queiroz que seriam incompatíveis com os seus rendimentos.
Embora tenha faltado a duas convocatórias para prestar esclarecimentos ao Ministério Público brasileiro alegando problemas de saúde, Queiróz deu uma entrevista à imprensa local e negou ter cometido qualquer irregularidade.
O caso, porém, continuou a ganhar relevo principalmente depois de as investigações terem sido temporariamente paralisadas por decisão provisória do Supremo Tribunal Federal (STF), a pedido da defesa de Flávio Bolsonaro.
Na última sexta-feira o Jornal Nacional, programa jornalístico de maior audiência do Brasil, divulgou novos excertos do relatório do Coaf indicando que Flávio Bolsonaro teria recebido na sua conta pessoal depósitos atípicos no valor de 96 mil reais (22,3 mil euros) em 2017.
No sábado, o mesmo telejornal noticiou que Flávio Bolsonaro também resgatou um título bancário da Caixa Económica Federal no valor de pouco mais de um milhão de reais (cerca de 230 mil euros).
A suspeita que paira sobre o filho do Presidente, que também nega ter cometido qualquer irregularidade, é de que ele pode ter recebido ilegalmente – com a ajuda do assessor Queiróz – parte dos salários de ex-funcionários enquanto era deputado estadual na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
O Presidente do Brasil será o primeiro de cinco chefes de Estado a dirigir-se à plateia de empresários, banqueiros e representantes de organismos internacionais a discursar em Davos na terça-feira.
No entanto, Bolsonaro tinha previsto uma conferência de imprensa em Davos, mas esta foi retirada do programa, segundo o jornal Estado de São Paulo.
Ao lado do ministro da Economia, Paulo Guedes, e do ministro da Justiça, o ex-juiz Sérgio Moro, que ganhou notoriedade pela atuação na Operação Lava Jato, Bolsonaro pretende vender uma nova imagem pessoal e do Brasil para investidores estrangeiros adotando um discurso liberalizante da economia e de forte combate à corrupção.
Bolsonaro, que no passado disse ser admirador da ditadura militar que governou o Brasil entre 1964 e 1985, disse que pretende defender a democracia e deve tratar ainda de temas relativos à economia da América do Sul e à crise na Venezuela, que serão objeto de um painel paralelo em Davos na quarta-feira.
com Lusa