Nicolas Sarkozy (2007-2012) – França
Em maio de 2012 o site de informação Mediapart revelou que o ex-chefe de estado chegou ao Palácio do Eliseu graças a financiamento líbio. Após anos de investigação, a justiça francesa seguiu a pista de que o antigo ministro do Interior e candidato presidencial terá recebido, entre o final de 2006 e o início de 2007, várias malas de notas com mais de cinco milhões de euros oferecidos por Muammar Kadhafi. Um esquema que terá sido confirmado por alguns dos colaboradores do ditador – caso do ex-chefe dos serviços secretos líbios (Moussa Koussa, exilado no Qatar) ou por um dos supostos intermediários, o empresário franco-argelino Alexandre Djouhri, a quem foram confiscados vários documentos comprometedores no seu domicílio suíço. Sarkozy nega tudo. O processo pode ainda envolver outros antigos governantes franceses: Claude Guéant, ex-secretário geral do Eliseu, Brice Hortefeux, ex-ministro da Integração, Bernard Squacini, ex-diretor dos serviços secretos, e Boris Boillon, ex-conselheiro de Sarkozy e ex-embaixador no Iraque e na Tunísia. O escândalo promete dar muito mais polémica do que a condenação a dois anos de pena suspensa, em 2011, do antigo Presidente Jacques Chirac, por abuso de confiança e desvio de fundos públicos pela sua gestão à frente da câmara de Paris.
Jacob Zuma (2009-2018) – África do Sul
Forçado a abandonar a chefia do estado há pouco mais de um mês, Zuma ficou a saber no dia 16 de março que é outra vez arguido num megaprocesso de corrupção, no qual é suspeito de envolvimento num negócio de venda de armas de 4200 milhões de euros, em 1999, quando era ainda vice-presidente. O polémico e polígamo dirigente que foi afastado do poder pelo seu próprio partido, o Congresso Nacional Africano, terá de responder também por fraude e branqueamento de capitais por este esquema que tem Schabir Shaik, o seu ex-conselheiro financeiro (e já condenado a 15 anos de prisão), e a empresa francesa Thales como protagonistas. Uma auditoria feita pela KPMG terá demonstrado que houve 783 transferências bancárias para as suas contas pessoais. Mas este não é caso único. O ex-presidente pode vir a ser acusado de vários crimes pelas suas relações com a família Gupta, alegada beneficiária de várias obras públicas e de um sem fim de esquemas com o poder. E habilita-se a ver reabertos dois outros casos: o julgamento de 2006 em que foi ilibado da violação de um dos seus melhores amigos e as famosas obras que fez na sua casa de Nkandla, onde terão sido gastos 20 milhões de euros do erário público em remodelações que incluíram uma piscina, estábulos e uma vedação especial por razões de segurança.
Mikheil Saakashvili (2004-2013) – Geórgia
Durante muitos anos foi apontado como um paladino da democracia, defensor dos valores do Ocidente e da entrada da Geórgia na NATO e até na União Europeia. Mas o antigo líder da Revolução Rosa em Tblissi é hoje um incómodo apátrida que decidiu o mês passado exilar-se em Amsterdão – a sua mulher é holandesa. Há mais de três décadas que Saakashvili é um andarilho político: licenciou-se em relações internacionais numa universidade de Kiev, na Ucrânia, ganhou depois uma bolsa para tirar um mestrado em direito, nos EUA, estudou e trabalhou ainda em França e na Noruega, e só em 1995, aos 28 anos, se tornaria deputado no país natal. A sua desmedida ambição levaram-no à chefia do estado e colocaram-no em rota de colisão com os seus compatriotas e também com a vizinha Rússia. As suas reformas e sobretudo a cruzada anticorrupção levaram os adversários a acusarem-no de autoritarismo, de querer eternizar-se no poder e de ser capaz de ordenar os piores crimes. No final de 2013, abandonou o cargo e, desde então, a justiça não lhe dá tréguas: condenado na Geórgia por abuso de poder e apropriação indevida de fundos públicos, regressa aos EUA mas acabou por naturalizar-se ucraniano, no ano seguinte, para não correr o risco de ser extraditado. A nova pátria acabaria também por trocar-lhe as voltas, após ter sido governador da região de Odessa – por nomeação direta de um seu velho amigo, Petro Porochenko, Presidente da Ucrânia. Saakashvili ocuparia esse cargo durante 16 meses, até ambos se incompatibilizarem. Em dezembro esteve preso por ligações a uma organização criminal, fez greve da fome e, a 12 de fevereiro, foi deportado para a Polónia. Será que ainda vai candidatar-se a um cargo no país das Tulipas?
Lula da Silva (2003-2011) – Brasil
Barack Obama, quando já era Presidente dos Estados Unidos e Prémio Nobel da Paz, chegou a dizer que Lula da Silva era a “verdadeira estrela da política” mundial. Só que o antigo operário metalúrgico que se tornou uma das 100 personalidades mais importantes do planeta, um ícone da esquerda no século XXI e resgatou da miséria mais de 25 milhões de brasileiros vive hoje um calvário judicial à custa da Operação Lava Jato, o mediático processo de corrupção que, desde 2014, não poupa praticamente ninguém que pertença à elite do maior país da América Latina. O ex-chefe de estado alega estar a ser vítima de um processo político e, em outubro, pretende concorrer novamente ao Palácio do Planalto. No entanto, já se percebeu que as suas hipóteses de voltar à presidência são muito reduzidas, embora surja nas sondagens como o candidato mais bem cotado. No início deste mês, os seus advogados perderam o recurso de habeas corpus apresentado no Tribunal Superior de Justiça e o mais provável é que Lula seja detido nas próximas semanas para cumprir a pena de 12 anos a que foi condenado, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Será que vai ficar na história como o governante que se deixou subornar por causa de um simples apartamento em Guarujá?
Ollanta Humala (2011-2016) – Peru
Este católico progressista licenciado em ciências militares e políticas foi dos primeiros governantes latino-americanos a ser visado nas investigações do processo Lava Jato fora do Brasil. E, no verão do ano passado, ele e a mulher receberam ordem de prisão preventiva pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Aparentemente, Humala terá recebido pelo menos três milhões da construtora brasileira Odebrecht, interessada em garantir contratos de obras públicas. A justiça peruana está completamente assoberbada com as traficâncias e os inúmeros esquemas das grandes empresas brasileiras e a classe política do país. Além de Humala quatro outros ex-presidentes estão a ser investigados – um deles, Alejandro Toledo, já fugiu para os EUA – e o atual chefe de Estado, Pedro Pedro Pablo Kuczynski está a ser alvo de um segundo processo de destituição, também devido a ligações perigosas com a Odebrecht quando era ministro. Os procuradores responsáveis por estes escândalos suspeitam que tenham sido pagas dezenas de milhões de luvas a altos responsáveis políticos.
Ricardo Martineli (2009-2014) – Panamá
Este empresário agraciado em 2013, por Aníbal Cavaco Silva, com o Grande Colar da Ordem Infante D. Henrique, está detido nos Estados Unidos há nove meses, a pedido da justiça panamenha. Também suspeito de envolvimento no escândalo Lava Jato, enfrenta vários outros processos judiciais, quase todos por corrupção e peculato, sempre com um toque rocambolesco – por envolverem igualmente os seus familiares e a sua rede de lojas. No entanto, é também acusado de ter concedido irregularmente 355 indultos a várias personalidades e, num outro caso, por ter dado luz verde a uma operação de espionagem que tinha por objetivo vigiar centenas de jornalistas, magistrados e individualidades que punham em causa a sua presidência.
Alvaro Colom (2008-2012) – Guatemala
É apenas o protagonista do mais recente escândalo de corrupção a envolver antigo dirigentes deste país da América Central. Detido há um mês no âmbito de um processo sobre a concessão de uma frota de autocarros para a capital guatemalteca – que terá beneficiado não apenas Colom mas também oito antigos ministros – aguarda agora o julgamento que o pode colocar atrás das grades vários anos. Mas ele está longe de ser caso único. O seu sucessor no cargo, o general Otto Pérez Molina, foi obrigado a demitir-se em agosto de 2015 e, um mês depois, foi preso devido a um caso conhecido como “La Línea”, um esquema de contrabando e cobrança de subornos a empresários que recebiam depois importantes isenções fiscais. Mas há mais. O antigo Presidente Alfonso Portillo, que ocupou o cargo entre 2000 e 2004, foi condenado há quatro anos nos EUA por branqueamento de capitais – qualquer como 70 milhões de dólares, incluindo uma parte em subornos do governo de Taiwan.
Park Geun-hye (2013-2017) – Coreia do Sul
A primeira mulher a ocupar a presidência sul-coreana parece estar condenada a um lugar menor na história, a exemplo do que sucedeu com o seu pai tirano, o general Park Chung-hee (que liderou o país de 1963 a 1979). Após ter sido deputada durante 14 anos, Park Geun-hye foi eleita pelos seus compatriotas num ambiente de esperança e com boa parte da comunidade internacional a elogiar a sua agenda conservadora e a revista Forbes a colocá-la como a governante mais inflente da Ásia. O seu período de graça durou pouco devido às suspeitas de corrupção, abuso de poder e sobretudo pelas sua bizarra relação com Choi Soon-sil, uma eminência parda em ciências ocultas e xamanismo que tinha acesso a segredos de estado e ditava muitas das decisões presidenciais. O caso culminou num processo de destituição e na sua prisão em março do ano passado. Aguarda julgamento e, caso se comprovem as acusações, pode ser condenada a três décadas de cárcere. Ela também não é caso único. Três dos seus antecessores no cargo também foram condenados por corrupção.
Carlos Menem (1989-1999) – Argentina
Coleciona processos judiciais e inúmeras acusações de corrupção mas nunca passou mais de cinco meses seguidos na prisão. Durante os seus mandatos, o Governo de Buenos Aires terá traficado armas para os Balcãs e alimentado os conflitos na ex-Jugoslávia, ao arrepio do embargo imposto pelas Nações Unidas. Como se não bastasse, repetiu a fórmula na guerra entre o Equador e o Peru (em 1995). Os dois casos só conheceram uma sentença em junho de 2013, data em que Menem se tornou a primeiro Presidente do país a ser formalmente condenado, com uma pena de prisão efetiva de sete anos. Dois anos depois, é novamente dado como culpado num processo de peculato que o impede de voltar a desempenhar quaisquer cargos públicos. Só que os vários recursos por si interpostos e o facto de usufruir ainda do estatuto de senador permite-lhe continuar em liberdade.
Moshe Katsav (2000-2007) – Israel
O único país do Médio Oriente com um regime democrático não tem sido meigo com os seus governantes que prevaricam. No penúltimo ano da presidência de Moshe Katsav já poucos duvidavam de que ele era um predador sexual, habituado a molestar as mulheres com quem se cruzava. Em janeiro de 2007, o procurador geral do país acusou o chefe de estado de violação, assédio sexual, fraude, abuso de confiança e obstrução à justiça. O caso deu imensa polémica, levou à abertura de um processo de destituição e o visado acabou por demitir-se sete meses depois. Três anos depois, Katsav era condenado a sete anos de prisão e pouco depois encaminhado para a prisão de Maasiyahu, perto de Jerusalém. Curiosamente, trata-se do mesma penitenciária onde um antigo primeiro-ministro israelita, Ehud Olmert, teria também de passar 16 meses devido a um escândalo de corrupção e que, no limite, pode acolher o atual chefe do Executivo – Benjamim Netanyahu – caso se confirmem as suspeitas que sobre ele pesam em três casos de suborno, tráfico de influências e nepotismo.