Todos os agentes nervosos “atacam” da mesma maneira: bloqueiam a atividade das enzimas responsáveis pelos recetores no sistema nervoso central. “Em suma, o que fazem é bloquear o mecanismo que permite ao nervo a sua reinicialização depois da transmissão de um sinal nervoso”, resume Andrea Sella, professor de química na University College London, citado pelos meios de comunicação internacionais a propósito do caso do antigo agente russo que continua em coma depois de ser encontrado inconsciente, no chão de um centro comercial, em Salisbury, Reino Unido.
Na segunda-feira, a primeira-ministra britânica, Theresa May, anunciou que a substância usada para envenenar Sergei Skripal e a filha, Yulia, foi o Novichok, um agente de nervos de efeito rápido – 30 segundos a 2 minutos bastam para que a pessoa atacada comece a experimentar os sintomas de evenenamento. No entanto, se for usado em forma de pó, os efeitos poderão demorar 18 horas até se tornarem visíveis.
A tipologia dos sintomas é variada e afeta múltiplos orgãos. Contração das pupilas, perda de consciência, náuseas e vómitos são das manifestações menos severas, mas casos extremos podem resultar em coma, paragem cardiorespiratória e, consequentemente, a morte.
Este composto químico é tão forte que pode inutilizar os equipamentos de proteção e as máscaras de gás, normalmente usados em casos de risco químico.
“É uma autêntica tortura, é impossível imaginar. Mesmo em doses pequenas, a dor pode durar semanas. É impossível imaginar o horror, é muito mau”, pormenoriza ao jornal britânico Daily Mail o químico Vil Mirzayanov, um dos cientistas responsáveis pelo desenvolvimento do Novichok. “É para paralisar as pessoas. Provoca convulsões e dificuldade na respiração. Depois disso, a pessoa morre, se for exposta a uma dose razoável”, esclarece ainda,
Em declarações à CNN, o especialista Hamish de Bretton-Gordon descreve o Novichok como “uma arma química muito sofisticada”, uma opinião partilhada pelos especialistas que têm sido ouvidos sobre este caso e que concordam também sobre a dificuldade em identificá-lo. É que os “ingredientes” deste composto não fazem parte da lista das substâncias banidas ao abrigo da Convenção sobre Armas Químicas, assinada em 1993, o acordo internacional que prevê a proibição do uso, produção e armazenamento de armas químicas por parte dos países que o ratificaram.
Os agentes nervosos podem assumir a forma líquida, incolor e inodora, ou sólida. Crê-se que a dispersão do Novichok é feita através de um pó ultra-fino. A dimensão do perigo aumenta significativamente uma vez que a inalação é o principal meio de absorção deste agente. A absorção pode também ocorrer por via dérmica e através das membranas mucosas.
Não há um tratamento específico. A remoção da roupa e lavagem da pele, com sabão e água, a remoção de lentes de contacto e a irrigação dos olhos entre 5 e 10 minutos são algumas das medidas que podem ser tomadas, a par com o auxílio da parte respiratória, com administração de oxigénio ou ventilção, mecânica ou manual. Também podem ser administrados medicamentos anti-convulsivos e, em alguns casos, atropina.
Mas Andrea Sella avisa que o mais provável é a ocorrência de “problemas neurológicos de longo prazo” em quem tenha estado exposto a estes agentes.