Migração, Europa digital, Brexit, Segurança e Defesa… a agenda da cimeira europeia omitia qualquer referência à crise catalã. Era um não-assunto, um tema que os 28 Estados europeus tentaram evitar até que esbarraram com as perguntas insistentes dos jornalistas na abertura da cimeira, que decorre esta quinta e sexta-feira em Bruxelas.
“Esperamos que haja uma solução com base na Constituição espanhola”, disse, à chegada, a chanceler Angela Merkel. “Esta cimeira será marcada por uma mensagem de unidade em relação a Espanha”, completou o presidente francês, Emmanuel Macron. A toque de caixa, a maioria dos líderes europeus cerrou fileiras ao lado de Mariano Rajoy e optou por um estatuto de observador distante. Nem uma palavra sobre a prisão preventiva de dois ativistas catalães, a quem a esquerda espanhola chama de “presos políticos”, nem sobre o acionar do artigo 155º da Constituição espanhola, o gatilho da suspensão da autonomia catalã, que Madrid prepara para este sábado (21 de outubro).
Holanda, Luxemburgo, até a Eslovénia – que muitos apontam como um modelo e um precedente para independência da Catalunha – optaram pela via da defesa da Constituição e pela tese da questão catalã ser “um assunto interno de Espanha”. O presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani, repetiu que “nenhum Estado irá reconhecer a independência catalã”.
A única voz dissonante foi a do primeiro-ministro belga. “Não penso que o aumento da escalada seja bom”, disse Charles Michel. “Quem pode validar a violência onde quer que seja? Ninguém, suponho. Como europeus devemos primeiro recorrer, em solo europeu, ao diálogo político onde quer que haja uma crise política”, acrescentou. O líder belga no dia do referendo catalão, a 1 de outubro, tinha criticado a violência da Guardia Civil espanhola em umas declarações que já salpicaram as relações bilaterais. O jornal De Morgen adiantava esta quinta (19 de outubro) que Madrid tinha retirado o apoio à candidatura da belga Catherine De Bolle para presidente da Europol.
O apoio europeu à posição de Madrid completa-se esta sexta-feira quando os três líderes das instituições europeias – Conselho, Comissão e Parlamento – viajarem para Oviedo. Donald Tusk, Jean-Claude Juncker e Tajani aceitaram os três, todos da família conservadora PPE como Rajoy, o convite para receberem o prémio Princesa de Astúrias, atribuído este ano à União Europeia. Mas a presença do ‘estado-maior’ europeu, em peso, tem sido interpretado como uma mensagem de apoio à unidade e num momento delicado da democracia espanhola. GM