A profissão de “merkologista” proliferou na Alemanha e fora dela. Muitos foram os analistas que procuraram explicar a cabeça e a forma de atuar da mulher mais poderosa do mundo. Konstantin Richter, escritor e colunista no Guardian e no Politico e autor do Livro “A Chanceler”, falou à VISÃO sobre a mulher mais poderosa do mundo às portas de, com elevada probabilidade, ser eleita para mais um mandato, o quarto.
A história pessoal de Merkel é muito rica. O que, da sua educação e percurso, mais a influenciou como política?
Merkel testemunhou o declínio da República Democrática Alemã socialista. Ela viu o quão depressa as coisas podem mudar. Para além disso, ela própria ficou num limbo, com um futuro incerto. A sua carreira como cientista ficou penalizada quando o Muro de Berlim caiu. E quando entrou na política, o sucesso estava longe de estar garantido. Ela deve o seu sucesso a várias circunstâncias fortuitas, e ela sabe-o. A experiência de uma transformação que alcança toda a sociedade tornou-a precavida. isso explica, na minha opinião, porque ela é uma política tão cautelosa, que presta muita atenção à opinião pública.
Angela Merkel era investigadora em química quântica antes de entrar na CDU. Ela trouxe uma abordagem científica à política?
Na Alemanha gostam de dizer que ela tem uma mente de cientista e que se guia pelas leis da física. É verdade, porém ela também ficou conhecida por tomar decisões que parecem tudo menos científicas. Por exemplo, Merkel sempre foi uma defensora da energa nuclear na Alemanha. Quando viu as imagens do desastre de Fukushima no seu I-Pad, abruptamente mudou de ideias e decidiu começar a abandonar a energia nuclear. Geralmente não há nada de errado numa decisão neste sentido, mas esta foi tomada à pressa, caindo como uma completa surpresa para muitos dos intervenientes.
Como caracteriza a sua relação com os pobres – as pessoas e os países da Europa?
Bom… Merkel não desmantelou o Estado Social na Alemanha. Foi o seu governo que introduziu o salário mínimo, e ela sempre esteve mais aberta a medidas sociais-democratas do que os seus colegas de partido. Em relação aos países mais pobres da União Europeia, diria que os eleitores alemães e o futuro da UE como um todo, são mais importantes para ela do que as necessidades de, por exemplo, Portugal e os seus cidadãos.