Aos 62 anos, o antigo primeiro-ministro francês (2007-2012) vingou-se e atirou para a reforma Nicolas Sarkozy, o ex-Presidente que o tratava como “colaborador” e “senhor Ninguém”
Aluno insolente
François é um dos quatro filhos da historiadora Anne Soulet e do notário Michel Fillon. A família vive em Cérans-Foulletourte, no noroeste da França, local onde costuma receber os participantes nas 24 horas de Le Mans, cidade que fica a 25 quilómetros e acolhe há 93 anos a conhecida prova do automobilismo mundial. Claro que o jovem depressa desenvolveu uma paixão por automóveis, só comparável à sua rebeldia escolar. No liceu jesuíta de Notre-Dame de Saint Croix, também frequentado por Antoine de Saint-Exupéry, François liderou uma revolta contra uma professora de inglês considerada “incompetente”.
A brincadeira vem relatada na sua biografia, da jornalista Christine Kelley, que o retrata como um “aluno insolente”.
Repórter estagiário
Concluído liceu, o François Fillon inscreve-se no curso de Direito da universidade de Maine, em Mans, mas o seu grande objetivo não era ser advogado. As férias grandes aproveita-as sempre para fazer estágios na agência France-Presse, por entender que o seu futuro passa pelo jornalismo.
Até descobrir os encantos da política, em 1974, e os de uma jovem nascida no País de Gales, Penelope Clarke, dois anos depois, quando ambos já frequentavam a Sorbonne, em Paris.
O casal acabaria por casar em junho de 1980 e criar cinco filhos ela abdicaria da sua carreira jurídica.
Animal político
Aos 27 anos e após ter sido conselheiro de Jöel Le Theule (ministro da Defesa que morre de ataque cardíaco em 1980), François Fillon torna-se o mais jovem deputado da França. É o início de uma carreira discreta que o haveria de colocar em vários cargos de poder autarca, senador e ministro em cinco governos diferentes.
Corredor à direita
Em 2012, após abandonar o Executivo e com a derrota de Nicolas Sarkozy para cumprir um segundo mandato presidencial, Fillon disputa a liderança da UMP (o partido neogaullista e de centro-direita que daria origem aos Republicanos). Problemas renais e um acidente de mota em Itália fazem com que perca. Os adversários gozam com sua incapacidade para ser número um. No último domingo, 20, a história parecia condenada a repetir-se.
Candidato radical
As sondagens indicavam que só dois candidatos tinham hipóteses de vencer a primeira volta das primárias do centro direita: Nicolas Sarkozy e Alain Juppé.
O primeiro obteve 20% e o segundo 28%. O vencedor acabaria por ser François Fillon com 44% e 600 mil votos de diferença para o seu competidor direto.
No domingo, 27, os dois voltaram a medir forças e o vencedor foi novamente o homem que diz ser católico e pragmático – o Le Monde dizia que a escolha era entre a direita chiracquiana (Juppé) e a direita thatcheriana (Fillon). É que a prioridade deste último é já roubar apoiantes a Marine Le Pen. Por isso, promete combater o “totalitarismo islâmico”, negociar com Vladimir Putin, reduzir a despesa do estado em €100 mil milhões, dispensar 500 mil funcionários públicos ou, até, eliminar o imposto sobre as grandes fortunas…