Sem a política de bastidores, que se segue nos próximos capítulos, António Guterres não tem concorrentes à altura na corrida a secretário-geral da ONU. O português venceu hoje, pela quinta vez consecutiva, a última votação informal para encontrar o sucessor de Ban Ki-moon entre nove candidatos.
Guterres manteve os números da última votação – 12 votos de encorajamento, dois de desencorajamento e uma abstenção -, contra os principais concorrentes que sofreram todos uma forte erosão. Em segundo, o sérvio Vuk Jeremic, que contou com o apoio de Wall Street Journal, teve mais dois votos de desencorajamento que na votação anterior e menos um de encorajamento. E o diplomata eslovaco, Miroslav Lajcák, caiu um lugar, para terceiro, com mais três votos de desencorajamento. Num processo em que há a pressão para encontrar um nome no feminino, a argentina Susana Malcorra é a primeira mulher na votação, em quarto ex-aequo com o esloveno Danilo Türk, muito à frente da búlgara Irina Bokova, que agora tem mais votos de desencorajmento (7) que de encorajamento (6).
A descida brusca nesta votação de Bokova, atual directora-geral da Unesco, representa um novo desafio para o primeiro-ministro búlgaro. Após pressões pouco discretas de Berlim e de Bruxelas, Boyko Borissov esteve para trocar o candidato búlgaro à ONU na semana passada – de Bokova para Kristalina Georgieva, vice-presidente da Comissão Europeia. A Rússia, membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, travou a manobra de Merkel à última hora e Sofia manteve o apoio a Bokova, ainda que um apoio condicionado à performance nesta votação.
A entrada em cena de Georgieva, apoiada pelos conservadores europeus do PPE, pode agora ser tardia e até contraproducente
num processo que a ONU queria conduzir de forma mais aberta e transparente. “Sinto-me muito honrada que tantas pessoas me encorajem a candidatar”, disse Georgieva, na passada semana, durante um evento organizado pelo International Peace Institute.
Perante o favoritismo de Guterres, em Washington começa a surgir o cenário de negociações para o número dois do próximo Secretário-Geral da ONU ser da Europa de leste.
Para 4 de outubro está marcada a primeira votação decisiva, em que será conhecido o sentido de voto dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU – Rússia, China, EUA, Reino Unido e França.