As declarações de Nicolas Sarkozy vieram no dia seguinte a um novo atentado em França. Desta feita na Normandia, onde dois apoiantes do Daesh fizeram cinco reféns e degolaram um padre, na igreja de Saint-Etienne-du-Rouvray. “Entrámos em guerra com os ataques ao Charlie Hebdo em janeiro de 2015. É preciso tirar todas as consequências disso”, nota Nicolas Sarkozy em entrevista ao diário francês Le Monde. “Este novo drama mostra até que ponto devemos mudar o modo como ripostamos ao terrorismo islamita”, acentua o candidato às presidenciais do próximo ano, que diz não poder “aceitar a aplicação de esquemas intelectuais do passado à realidade de hoje”.
Para Sarkozy, que antes de presidente da República francesa foi também ministro do Interior de Jacques Chirac, deve ser feita luz “sobre o percurso judicial dos terroristas, sobre os meios de vigilância e sobre a apreciação de perigosidade destes indivíduos”. E interroga-se: “Como é que indivíduos reportados como perigosos, um dos quais sob controlo judiciário por ter tentado juntar-se à jihad na Síria, foram deixados em liberdade para cometer este atentado?”. Recorde-se que um dos dois terroristas do ataque à igreja normanda estava com pulseira eletrónica, depois de ter tentado juntar-se ao Daesh.
Numa França dividida em relação às medidas de segurança postas em prática num país que se diz em guerra mas onde um camionista mata mais de 80 pessoas durante a celebração do 14 de Julho, em Nice, Sarkozy aproveitou para pôr mais uma acha na fogueira. Se o inquérito aberto à atuação das autoridades contraditar a versão governamental – que alega que o dispositivo policial era adequado na marginal de Nice –, para Sarkozy estar-se-á na presença de uma “mentira de Estado” por parte do executivo.
“O nosso país, como nenhuma outra democracia, não a poderá aceitar”, nota. “A urgência é a segurança dos franceses e essa passa pela verdade. O governo deve-a aos familiares das vítimas e a todos os franceses”. [No seguimento do atentado na Promenade des Anglais, responsáveis da polícia de Nice afirmaram ter sido pressionados para alterar a versão do que aconteceu na noite do Dia da Bastilha. Ter-lhes-ia sido pedido que registassem a presença de forças policiais nacionais na avenida junto ao Mediterrâneo, quando tais forças terão estado ausentes. O ministro do Interior francês negou tais pressões e o presidente da República manifestou o seu apoio ao governante].
Na entrevista, Sarkozy defende ainda que se pode questionar o princípio da presunção da inocência. “O nosso sistema deve proteger as vítimas potenciais mais do que os autores prováveis de um futuro atentado”, disse aos três jornalistas do diário francês a quem concedeu a entrevista. “Há, nesta guerra, os inocentes, os culpados e uma zona cinzenta, na qual se encontram aqueles que ainda não passaram ao ato”, justifica.