Terceiro ataque em 18 meses. Cerca de 230 pessoas mortas às mãos dos terroristas. A França está de luto, hoje, por Nice. Mas está de luto há tanto tempo, depois de Charlie Hebdo e de Paris, que a unidade nacional começa a ruir. Os cidadãos sentem que quem deve zelar pela sua segurança não está a conseguir cumprir o seu papel. E as consequências políticas, a poucos meses de novas eleições Presidenciais, são difíceis de prever. Há apenas uma evidência: François Hollande está com a cabeça a prémio e os mais empenhados em derrubá-lo são os partidos da direita, com os nacionalistas liderados por Marine Le Pen na dianteira.
O maior ataque veio já do presidente da região de Nice, Christian Estrosi, que revelou esta manhã que ainda esta semana tinha enviado a François Hollande uma carta a reclamar “um plano de urgência” para equipar as autoridades de Nice , com mais meios e poderes. Logo a seguir ao atentado, Estrosi deixou claro que era preciso apurar responsabilidades e perceber “como é que um camião pode penetrar assim no Passeio dos Ingleses”, uma rua que estava fechada ao trânsito para as comemorações do Dia da Tomada da Bastilha.
O que também não ajudou à posição de Hollande nesta questão é o facto de horas antes ter anunciado numa entrevista a uma televisão francesa o fim do estado de emergência a partir de 26 de julho. O presidente considerou que o estado decretado depois dos atentados de 13 de novembro em Paris não podia ser prolongado indefinidamente. Horas depois era obrigado a vir garantir que esse estado de emergência será, para já, prolongado por mais três meses, que a Operação Sentinela, que incluiu a mobilização de milhares de soldados para proteger locais considerados sensíveis a ataques, será mantida e que as “reservas operacionais” serão convocadas. Além, claro, do aumento no controlo de fronteiras.
Mas a oposição não perdoa. A Frente Nacional já mostrou que não ficará calada. E com as sondagens para as eleições presidenciais de 2017 a apontarem para queMarine Le Pen consiga obrigar a esquerda de Hollande a uma segunda volta nas Presidenciais, o perigo de os nacionalistas ascenderem ao poder em França aumenta. Para Marine Le Pen , a França está num estado de “legítima defesa”. E deve agir em unidade nacional, quer no “sentido político como militar”.
Já a eurodeputada do partido, Sophie Montel, veio denunciar o “laxismo” do Executivo francês face à “barbárie” e garante que os franceses “reclamam atos fortes e não mais “blabla”” dos políticos “UMPS”, o neologismo que usam para designar o Bloco Central francês, em que juntam o Partido Socialista de Hollande e os Republicanos de Sarkozy. Também o conselheiro especial de Marine Le Pen, Éric Domard, escreveu no Twitter: «Aos abutres UMPS que deixaram os lobos entrar no rebanho para cometer esta carnificina, perdoai-lhes a sórdida indignação”.
Os apelos a que se fechem as fronteiras e se aumente a vigilância vêm de todos os setores. E o presidente dos Republicanos, Nicolas Sarkozy já deixou claro que haverá discussão sobre as responsabilidades de segurança do Executivo Francês. : “estamos numa guerra que vai durar, contra uma aemça que se renova. A adaptação e o fortalecimento do nosso dispositivo de luta contra o terrorismo islâmico continua a ser uma prioridade absoluta. Nada pode ficar como antes”.
Alemanha e Reino Unido tomam medidas
Enquanto os líderes mundiais vão enviando para França as suas condolências e o seu apoio para a luta contra o terrorismo, há quem esteja mais perto e tome medidas nos seus próprios territórios. A polícia federal alemã anunciou o reforço das fronteiras com França em concertação com as autoridades de Prais. Também o mayor de Londres Sadiq Khan anunciou que vai rever as “medidas de segurança” da capital britânica.
Pelas redes sociais, na televisão, nos artigos de opinião uma outra questão se coloca. Como ficará a Europa depois deste ataque indiscriminado, fora das capitais e recorrendo apenas a um camião que abarroou indiscrinadamente civis? Líderes como Hollande pedem coragem e prometem uma luta sem tréguas ao Estado Islâmico. Mas as dúvidas permanecem. Como podem os estados garantir a segurança dos seus cidadãos? E por todo o lado voltam a surgir as dúvidas sobre o acolhimento de refugiados vindos dos países como a Síria ou a Eritreia.