Um texto de um leitor publicado na caixa de comentários do jornal The Guardian, no dia a seguir ao referendo no Reino Unido sobre a permanência na União Europeia (UE), não só teve honras de notícia em vários jornais como rapidamente se ‘instalou’ no top das mais vistas. Dizia mais ou menos isto: com o anúncio imediato da sua demissão, David Cameron, o primeiro-ministro que impulsionou a consulta popular e era favorável à permanência, oferecia um presente envenenado aos defensores da saída e ninguém o ia querer desenbrulhar. A começar por Boris Johnson. “Talvez os apoiantes do Brexit ainda não se tenham apercebido, mas na verdade eles perderam e isso deve-se a um homem: David Cameron”, podia ler-se.
Segundo esta teoria, o primeiro-ministro era o único que poderia dar sequência política à opção dos britânicos, validando-a junta da UE, pois todos os outros que viessem a seguir ficariam sempre conotados com a saída formal do Reino Unido (o referendo não é vinculativo) – e todas as consequências negativas que daí adviriam, pelo menos nos primeiros tempos.
Quase duas semanas depois, fosse ou não fosse o pedido de demissão uma jogada de Cameron para evitar o Brexit, a verdade é que ninguém quer a bomba relógio nas mãos, sob pena de manchar a carreira política. Nem mesmo os maiores defensores da saída: Boris Jonhson, o ex-mayor de Londres que era apontado como o provável sucessor de David Cameron no Partido Conservador, anunciou na semana passada que estava fora da corrida – “Essa pessoa não posso ser eu”; e na manhã desta segunda-feira caiu mais uma das figuras centrais do Brexit, com Nigel Farage a resignar enquanto líder do Partido Independente.
“Vim dos negócios para a política porque acredito que esta nação deve governar-se a si própria. Nunca fui nem nunca quis ser um político de carreira. O meu objetivo na política era tirar a Grã-Bretanha da União Europeia e foi isso que votámos no referendo de há duas semanas e é por isso que sinto que fiz a minha parte e que não posso alcançar mais do que alcançámos no referendo. E sendo assim sinto que o correto é renunciar à liderança do UKIP”, declarou, deixando no ar a possibilidade de voltar a comentar “de vez em quando” no Parlamento Europeu.