O vídeo foi mostrado na aula de “Ética e Cidadania” do 4º ano do secundário (com alunos de cerca de 15 anos) na escola Puríssima Concepção e Santa Maria Micaela em Logronho, um colégio “concertado” (semi-privado) gerido pela Igreja Católica.
Os colégios “concertados” espanhóis são centros educativos semi-privados onde praticamente todos os custos são a cargo do Estado mas a gestão é privada, em grande parte dos casos feita pela Igreja Católica.
Vinte e dois diapositivos foram apresentados aos alunos com imagens chocantes de supostos restos de fetos abortados e esquartejados ao lado de fotografias do primeiro-ministro, José Luís Rodríguez Zapatero, e da ministra da Igualdade, Bibiana Aído.
As imagens, entretanto colocadas na Internet, pedem votos contra o PSOE, apelam aos católicos para “sair à rua” em protesto contra o aborto e chegam mesmo a incluir as direcções dos líderes políticos socialistas para enviar “cartas de protesto”.
Os diapositivos foram apresentados dias antes das manifestações anti-aborto promovidas pela Igreja Católica e por várias entidades conservadoras, que estão previstas para domingo em várias cidades espanholas.
Numa das imagens vê-se um cartaz do PSOE, com três líderes do partido, incluindo Zapatero, e a frase: “Eles riem-se enquanto muitas crianças inocentes morrerão com a nova lei do aborto”.
O caso está a suscitar polémica política porque as imagens foram mostradas durante a cadeira de “Ética e Cidadania”, oficialmente conhecida como “Educação para a Cidadania” (EpC).
Esta cadeira, de cariz obrigatória, tem sido amplamente contestada pelos partidos mais à direita em Espanha, que a consideraram uma tentativa de o Estado doutrinar os alunos.
Responsáveis socialistas na região denunciaram já a projecção, tendo a porta-voz educativa do partido, Inmaculada Ortega, afirmando que “é inaceitável e um falta de respeito para com os alunos”.
Uma responsável da escola, Maria Victoria Vindel, disse ao jornal regional La Rioja, que não pretendeu fazer qualquer ataque político, mas apenas “viver no Evangelho”.
Posição rejeitada por Ortega que afirma que “estas projecções doutrinadoras estão a ser feitas em horário escolar, com cariz obrigatório” e, quando alunos se queixam “são mandados calar e obrigados a ver as imagens”.
Aplaudidos por alguns sectores espanhóis, os colégios “concertados” são igualmente contestados porque, em muitos casos, travam a entrada de imigrantes ou assumem decisões de expulsão de professores por estes não cumprirem com os valores da Igreja.
Nos tribunais estão casos de professores, pagos pelo Estado, que foram despedidos pelos responsáveis católicos das escolas por questões como serem divorciados ou estarem a viver, fora de casamento, com um companheiro ou companheira.