Fundador da starup Nudge Portugal e professor convidado do IST, Diogo Gonçalves dedica-se a uma área emergente da Economia, reconhecida com o Nobel da Economia em 2017. Esta nova corrente junta Psicologia à Economia, partindo da premissa de que os seres humanos não são sempre racionais nas suas escolhas, sendo facilmente influenciáveis. O objetivo será, portanto, ajudar as pessoas a adotar os comportamentos mais adequados, para o indivíduo e para a sociedade, fornecendo pequenos estímulos, conhecidos como ‘nudges’ (empurrãozinho, em inglês).
O que nos diz a Ciência Comportamental sobre a forma como devemos viver estes tempos tão duros que estamos a viver?
Nick Chater, um especialista em Ciência Comportamental, defende que, quando os governos adotam novas políticas para lidar com um problema, devem sempre criar uma história. Essa história é crucial para ajudar os cidadãos a compreender uma nova política. Uma das consequências da história será a restauração da fé dos cidadãos no futuro, permitindo-lhes confiar nas medidas do governo. Sem a história, tudo se desmoronará, e o caos e a catástrofe reinarão.

Independentemente da história, há medidas que têm de ser tomadas. E nem todos os governos têm seguido o mesmo caminho.
Governos de todo o mundo estão a adotar uma de duas histórias: A narrativa do fogo, posta em prática pela China e Coreia do Sul, que adotaram medidas de forma rápida e agressiva. Ou seja, uma visão de que ‘todas as chamas precisam de ser extintas’; a narrativa da maré, adotada inicialmente pelo Reino Unido, mas também pelos Países Baixos e Suécia, em que o vírus é visto como ‘uma onda imparável que superará as defesas existentes.’ De acordo com esta narrativa, a contaminação só vai parar quando o ponto de “imunidade de grupo” for atingido, ou seja, quando 60% a 80% da população tiver sido infetada.
E não há soluções intermédias?
Sim, há uma terceira via, que podemos chamar de narrativa do combate de Judo, em que o objetivo deixa de ser erradicar o vírus por meio de políticas de auto-isolamento, mas passa a ser o de manter a taxa de contágio a um nível mínimo, permitindo que a economia não se afunde e evitando a falência do país. A analogia com o judo vem do princípio defendido nesta arte marcial, em que resistir a um oponente mais poderoso resultaria em derrota, enquanto que ajustar-se e evitar o ataque do oponente faria com que ele perdesse o equilíbrio, reduzisse o poder e pudesse ser derrotado.
Parece difícil de encontrar, este equilíbrio. Como se consegue atingi-lo?
Há duas ciências emergentes que podem dar importantes contributos: as ciências do comportamento e as ciências dos dados. Vejamos um exemplo. Durante a pandemia, algo que as pessoas terão que fazer regularmente é ir ao supermercado. Seria muito útil identificar quais as características dos supermercados com maior e menor taxa de contaminação. Isso pode ser feito identificando os clientes de uma amostra de supermercados (por exemplo, usando QR Codes), testando-os regularmente, e analisando os resultados. Em seguida poderíamos testar diferentes estratégias para influenciar o comportamento dos clientes (aquilo que chamamos de ‘nudges’ – pequenas alterações do contexto, que influenciam o comportamento dos cidadãos de forma inconsciente e automática).
Quais são os exemplos destes ‘nudges’, ou ‘empurrõezinhos’, no contexto da pandemia?
Por exemplo, o número mínimo de pessoas a frequentar o espaço em simultâneo, pôr decalques no chão para garantir a distância mínima, levar as pessoas a lavar as mãos antes de entrar na loja… Essas medidas poderiam depois ser expandidas para todos os supermercados do país e assim quebrar potenciais cadeias de contaminação. Continuando a testar os clientes, compreenderíamos quais as medidas que funcionam melhor.
Além dos supermercados, também se pode usar a estratégia noutros setores?
Sim, sim. Esta abordagem pode ser implementada em outras áreas da economia que precisam de funcionar. Desde a produção até à distribuição e compra, devemos identificar as principais cadeias de contaminação. Isso ajudará a desenvolver intervenções que permitam manter a taxa de contaminação a um nível suficientemente baixo para que a sociedade e a economia possam continuar a funcionar, enquanto aguardamos pelo aparecimento de uma vacina.