Paulo Azevedo é um homem simples e muito reservado, adjetivos que muitos confundem com timidez. A sua ambição é ser feliz, o que para ele não é um cliché, nem coisa pouca. Separar com grande disciplina o tempo de trabalho do tempo de lazer é a sua fórmula para atingir o equilíbrio e tranquilidade.
Afinal, a vida é para ser vivida.
Com a família e com os amigos.
Não faz, nem exige, noitadas de trabalho. Bom desportista como o pai, gosta de esquiar, de futebol, de râguebi, de squash. Recentemente, encontrou um novo hobby: andar pelos ares; e, para tal, tirou o brevet de piloto.
Casado há 25 anos com a alemã Nicole, é pai-galinha de três filhos, que protege da exposição pública a todo o custo: Tobias, 23 anos, está a trabalhar na Worten, em Madrid (o único neto de Belmiro a trabalhar atualmente dentro do grupo), depois de uma passagem pela Unilever, em Barcelona; Joana, 20 anos, estuda indústrias criativas em Londres e elabora uma tese sobre a renovação do fado em Portugal; Laura, 15 anos, faz ainda os estudos secundários no Oporto British School.
Foi sempre grande a preocupação de Paulo em transmitir aos filhos valores como a humildade, solidariedade e filantropia, de modo a que sentissem o quão privilegiados são. Foi essa a razão por que, poucos anos depois de ter assumido funções executivas, fez uma paragem de trabalho de dois meses na Sonae. Agarrou na mulher e nos três filhos e viajou até Moçambique, país que lhe agarrou o coração.
“Eu e a minha mulher refletimos muito sobre ‘as dificuldades’ de termos filhos nascidos e criados na Foz [do Porto], onde os problemas sociais não são visíveis. Quisemos mostrar-lhes outras realidades”, contou, numa conferência da ACEGE Associação Cristã de Empresários e Gestores, onde fez o relato das semanas que passou, com a família, ao serviço de uma ONG. Paulo começava a cansar-se de só ver os filhos ao pequeno-almoço e, como tal, queria dar-lhes uma lição de vida. “A família tem de enfrentar as situações difíceis como se de uma equipa se tratasse”, contou. Adiantou, então, que os filhos ficaram “mais próximos” e “mais responsáveis”.
Tal como o pai, preocupa-se com a solidez da democracia e encara o “perdócio” que é o jornal Público como um ato de filantropia a favor da sociedade: sempre recusou vendê-lo a quem não lhe oferecesse garantias de dar continuidade a este objetivo.
Nicole, sua mulher de sempre, é bem ativa na associação Nariz Vermelho.
Num dos seus últimos aniversários, a mensagem foi clara: não é preciso prenda, mas aceita-se uma contribuição para a associação. Também no Parque Nacional da Gorongosa, em Moçambique, onde o casal se desloca regularmente, Nicole gosta de orientar algumas atividades com as populações locais. A última foi um atelier de costura.
INTEGRAÇÃO
Paulo arranjou, agora, uma nova paixão: o Espaço T Associação para Apoio à Integração Social e Comunitária, uma Instituição Particular de Solidariedade Social que atua sobretudo no Grande Porto, combate a exclusão social e promove a inclusão através da cultura, da arte e de projetos de desenvolvimento social.
O fundador do projeto, o enfermeiro Jorge Oliveira, também formado em gestão, leva 24 anos de resistência e já passou por maus bocados. Por isso, quando viu alguém como Paulo Azevedo aderir de corpo e alma a este projeto, ficou de coração cheio. Além de receber dele a contribuição pessoal de cerca de 20 mil euros anuais, tem o gestor agora seu “amigo” a presidir ao conselho de Cuidadores. Está grato pelo modo como Paulo se tem envolvido na sua gestão e até arrasta os amigos.
O encontro deu-se depois de Jorge se ter cruzado com Nicole num projeto sobre interculturalidades. Paulo quis conhecer toda a organização. “Chame–me só Paulo, esqueça o engenheiro e a Sonae”, disse logo o filho de Belmiro, que Jorge Oliveira só conhecia da OPA à PT. “Chegou às 14 horas e só saiu às 18h. Saiu daqui apaixonado, senti isso no seu olhar, na sua forma de sorrir, na forma simples de ele ser. Mostrou um lado pessoal que desconhecia.” A partir de então, “nunca mais nos abandonou.
Está a ensinar-nos a construir as coisas, a melhorar procedimentos, a obrigar–nos a ser mais perfecionistas e mais rigorosos, mais profissionais”.
Uma “simplicidade não fingida”, discreto, com capacidade de escuta e cheio de humanismo é como Jorge Oliveira descreve Paulo e como o veem grande parte dos amigos. Visitou o projeto com os alunos do Cerco, “sentou-se no chão com eles”. “Como é que alguém que tem de gerir a Sonae tem tempo para coisas tão pequenas como esta?”, interroga-se Jorge Oliveira.
“Mas ele põe aqui o mesmo empenho e dedicação.” Resultado: depois da crise que avassalou a instituição, esta voltou a registar lucros no ano passado. Os 22,5 mil euros de prejuízo em 2015 ficaram para trás e 2016 deixou-os com um saldo positivo de cerca de 43 mil euros.