A InanoEnergy, uma empresa saída da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, foi a única startup portuguesa premiada na Porto Water Innovation Week , um dos maiores eventos internacionais sobre a água. A startup portuguesa foi mesmo duplamente premiada, uma vez que além do 3º lugar para o melhor projeto apresentado, recebeu ainda o prémio relativo à eficiência energética.
Mariana Proença fez as honras da casa entre 16 startup europeias que, em apenas três minutos, tinham de convencer o júri que tinham o melhor plano para poupar água e energia. E ela conseguiu, pelo menos, convencer que a ideia que está ainda em fase de desenvolvimento na empresa incubada na UPTEC – Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto, ao abrigo do programa ESABIC (ligado à Agência Espacial Europeia) tem todo o potencial para se tornar um negócio apetecível.
“Queremos inventar um micro gerador capaz de gerar energia em lugares remotos e difíceis, que elimine a necessidade de usar turbinas ou baterias, por exemplo, uma vez que esta tem um período de vida curta”, explicou a investigadora Mariana Proença à Visão, ainda de face rosada pelo entusiasmo de mais uma vitória. Mais uma porque, ainda recentemente, o mesmo projeto recebeu um prémio da Repsol.
Mariana Proença foi o rosto da apresentação deste projeto, mas a equipa da InanoEnergy é formada por mais dois investigadores na área da nanotecnologia e dois técnicos a tempo inteiro.
A primeira ideia de negócio surgiu orientada para a indústria têxtil. Sabendo de antemão que há energia no ar constantemente desperdiçada – com um simples movimento do corpo, com a pressão dos sapatos a caminhar no chão ou com uma simples passagem de água por um tubo – surge a pergunta: como capturar esta energia e utilizá-la? Seria possível inventar um micro gerador que funcionasse com esta energia?
Depois, esta ideia foi evoluindo numa linha de design thinking, ou seja, adaptada às necessidades dos clientes. Pensar como pode isto ser adaptado aos vários setores: ao da água, fazendo com que um micro gerador capture a energia resultante da passagem da água num tubo, dispensando a clássica turbina, a bateria ou os cabos elétricos; aos poços do petróleo ou aos esgotos, usando o mesmo princípio.
“Isto pode fazer com que se consiga chegar a lugares remotos ou complicados e sempre adaptado às necessidades do cliente”, diz Mariana, confessando que está tudo ainda “numa fase inicial” e que o objetivo será sempre reconfigurar a ideia surgida na universidade para que se adapte à economia real.
Para já, vai acumulando prémios, o que é também um incentivo a que continuem a desenvolver a ideia. Desta vez, a InanoEnergy levou €3000, por um terceiro lugar e €1000 à conta do prémio da eficiência energética.
Um “chuveiro mágico” que poupa água e energia
Mais adiantado está o projeto vencedor, do dinamarquês Simon Kolf e o seu “chuveiro mágico”, que levou para casa €12 mil. A Flow Loop pensa ter o seu chuveiro no mercado na primavera do próximo ano. Sobretudo se conseguir o contrato dos municípios públicos para o instalar numa série de bairros sociais, conseguindo assim um ganho significativo do Estado em água e energia.
“Se eles comprarem este sistema, poderão obter poupanças de água na ordem dos 90%, porque usa pouca água, e cerca de 80% em energia, porque estabiliza a temperatura da água). Para nós, poderia acelerar a produção”, explicou Simon Kolf à Visão.
Chuveiros que reciclem a água que usamos num só banho já existem – “temos três concorrentes no mercado”, confessa. O que tem este de diferente? Integra uns micro filtros com raios ultra violeta, purificadores da água, que mata todas as bactérias, micro-organismos e até a legionela. Ora, a mesma água que cai do chuveiro sobe automaticamente para volta a cair purificada, sem que seja necessário andar a mudar de filtros de tempos a tempos ou a fazer manutenção, custos acrescidos.
Assim, se os chuveiros da concorrência custam entre 4 a 6 mil euros, mais os custos de manutenção, o Flow Loop poderá ir para o mercado a 2000 / 2500 euros. “E com os ganhos de água e energia, o consumidor poderá ver este investimento recuperado ao fim de quatro anos”, prevê o investigador dinamarquês, rosto de uma equipa com cinco elementos, que desenvolveram este sistema nos últimos três anos, na Universidade Técnica de Copenhaga, Dinamarca, e conta com o patrocínio financeiro da Energy Company.
O chuveiro mágico, como alguém lhe chamou durante a sessão de apresentação, já está certificado na União Europeia, Reino Unido e Estados Unidos, havendo já um projeto piloto.