A polémica voltou a instalar-se na Comissão Europeia e o nome de Barroso volta a estar no centro dos ataques. Desta vez, é a sua antiga comissária da Concorrência Neelie Kroes, que foi diretora de uma companhia offshore sediada nas Bahamas durante parte do mandato em Bruxelas.
Questionado sobre o caso esta manhã na conferência diária da Comissão Europeia, o porta-voz de Juncker não hesitou em ligar a “falha de memória” de Neelie Kroes à ida de Durão Barroso para a Goldman Sachs. “Há coisas que mesmo as regras apertadas como as nossas não são capazes de resolver. É o caso do nosso antigo presidente que foi para um banco e é o caso agora(de Neelie Kroes).
Margaritis Schinas diz que o caso da antiga comissária da Concorrência, a provar-se que não informou a Comissão da ligação à tal companhia das Bahamas terá “penalizações”, não querendo adiantar ainda quais. Este facto poderá configurar um incumprimento do Código de Conduta da Comissão Europeia, revela uma nova fuga de documentos de paraísos fiscais divulgada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação.
O porta-voz da Comissão garantiu que Jean-Claude Juncker já enviou uma carta a Kroes pedindo mais clarificações sobre o assunto e que só depois de ter todos os factos em cima da mesa é que a Comissão “decidirá os próximos passos”.
“É importante que as regras sejam respeitados por todos os que tiveram a honra de servir. A comissão tem que poder confiar nas informações que os seus comissários lhe dão”, disse Margaritis Chinas.
E voltou a insistir no caso de Durão Barroso, a quem Juncker retirou os direitos de passadeira vermelha e quer tratar em Bruxelas como um simples lobista. “Há uma questão de ética no caso do nosso antigo presidente da Comissão. E isso mostra que há alguns problemas que mesmo as nossas regras não conseguem resolver”.
A Comissão vai agora analisar se Kroes tomou alguma decisão enquanto comissária que tenha sido influenciada por esta sua ligação ao offshore das bahamas. O porta-voz acredita que este caso fará com que no futuro “todos os que querem ser parte desta instituição vão ter que ter a certeza que a memória não lhes falha quando toca a declaração de interesses”.
O que o Bahamas Leaks agora revela é que, entre 2000 e 2009, Kroes foi também directora da Mint Holdings Limited, um veículo criado por investidores próximos da família real dos Emirados Árabes Unidos para comprar activos da petrolífera americana Enron.
Só que o Código de Conduta da Comissão proíbe os membros da Comissão Europeia de deterem “qualquer outra atividade profissional, remunerada ou não” e Kroes omitiu o nome da sociedade offshore quando, em 2004, informou o nome das empresas para as quais tinha trabalhado nos dez anos anteriores. Contactada pelo Consórcio, a antiga comissária, actual consultora do Bank of America e da Uber, respondeu que foi apenas “diretora não executiva” da sociedade.
Barroso recorda passado de Draghi na Goldman Sachs
Entretanto, Durão Barroso falou pela primeira vez da posição da Comissão Europeia depois de ter sido contratado pela Goldman Sachs. Em declarações a um canal de televisão francês, o ex-presidente da comissão e atual presidente não executivo do banco de investimento, concretiza o que quis dizer quando acusou a atual comissão de discrimação e dualidade de critérios, lembrando que Mario Draghi, atual presidente do Banco Central Europeu, era Comissário Europeu antes de ir para o banco americano, e que depois de o deixar, assumiu a presidência do BCE sem que qualquer questão tenha sido levantada.