Quanto mais apertam as medidas de austeridade que iremos suportar nos próximos anos, mais se alimenta o debate sobre se Portugal deve ou não permanecer no euro. De momento, é uma mera hipótese académica. Apenas deixaríamos a moeda única por decisão própria, pois nenhum Estado-membro pode ser obrigado a sair.
Se não pode ser expulso, porque é que um país escolheria sair do euro? As razões são várias, mas a principal é recuperar a independência monetária. Com ela, os governo podem adotar políticas económicas específicas para problemas concretos. Por exemplo: atualmente, com o euro, se um governo precisar de reduzir a diferença entre a produtividade e o rendimento, para ganhar mais competitividade, a primeira opção que tem é baixar os salários. Com uma moeda própria, bastaria, pura e simplesmente, forçar a sua desvalorização. Desta forma, baixaria os vencimentos de forma artificial, pois a mesma quantidade de dinheiro, no final de cada mês, permitiria comprar menos bens e serviços. Outro dos benefícios seria a maior competitividade dos nossos produtos nos mercados externos, o que faria aumentar as exportações, uma das condições necessárias para reduzir o défice externo e criar mais emprego.
Mas o lado positivo da saída da moeda única poderá não compensar os prejuízos associados ao abandono da Zona Euro.
O primeiro impacto da criação de uma nova moeda – ou do regresso ao escudo – seria a sua desvalorização que, segundo a opinião de vários especialistas, poderia variar entre 25% e 40 por cento. Isto quer dizer que um depósito de 100 euros no banco, ou igual quantia na carteira, passaria a valer o equivalente a 75 ou mesmo 60 euros, quase de um dia para o outro.
Um estudo recente, feito pelo banco suíço UBS, assegura que a saída da moeda única custaria, em média, 11 500 euros a cada português. E só no primeiro ano. Nos seguintes, a fatura baixaria para os 3,5 a 4 mil euros. O poder de compra nacional seria drasticamente reduzido. Voltaríamos a ter taxas de juro de dois dígitos e a inflação entraria numa espiral de subida. Os produtos que importamos ficariam cada vez mais caros e inacessíveis aos nossos bolsos e o sistema financeiro poderia atravessar um dos períodos mais graves de sempre. Além disso, o Estado e muitas empresas teriam de arcar com uma enorme variedade de pequenos custos associados, que vão desde a alteração de caixas registadoras, parquímetros, computadores, a todos os meios de pagamentos em que usamos o euro.
A difícil transição
E mesmo que os políticos achassem que fazia sentido deixar o euro, outro problema se colocaria: como é que se faria a alteração de uma moeda para outra? A resposta não é fácil. Se o Governo optasse por uma saída brusca, o processo seria deveras complicado e com custos muito elevados. O simples anúncio da pretensão de sair do euro poderia provocar uma corrida aos bancos para evitar a desvalorização das poupanças, o que levaria ao colapso do sistema financeiro.
Para o evitar, a mudança teria de ser rápida, completa e inesperada. A solução seria o Governo congelar as contas bancárias e, possivelmente, fechar as fronteiras, antes de anunciar que iria sair do euro. E seria quase impossível que o Banco de Portugal imprimisse notas para abastecer todo o País sem que tal chegasse ao conhecimento dos portugueses.
No entanto, existem outras opções. Portugal pode negociar uma saída de forma prolongada no tempo, deixando o escudo num sistema de mecanismo de taxas de câmbio, tal como aconteceu antes de entrarmos para o euro – haveria, assim, um intervalo de variação cambial, de modo a não permitir uma descida abrupta da nova moeda. Desta forma, Portugal ficaria fora do euro, mas dependente do Banco Central Europeu durante um determinado período de transição, que permitisse os ajustamentos necessários à economia portuguesa.
O nosso futuro no euro é incerto, resta saber qual será a fatura mais dolorosa: se a de permanecer ou a de sair da moeda única…