Finalmente, em Julho de 2021, começaram os Jogos Olímpicos de Tóquio previstos para 2020. Os Jogos Olímpico Modernos, sobretudo desde finais da última Guerra Mundial, têm sido assombrados pelas mais diversas vicissitudes das quais a pandemia Covid-19 é só mais uma.
Em Londres (1948), imediatamente após a II Grande Guerra, a população londrina teve de partilhar as senhas de racionamento com os atletas. Em Helsínquia (1952), a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) participou pela primeira vez, representada por uma missão de atletas de Estado, alterando a correlação de forças, até então vigente, entre países. Em Melburne (1956), a República Popular da China (RPC) boicotou os Jogos e abandonou o Comité Olímpico Internacional (COI). Em Roma (1960) abriram-se as portas da Guerra Fria entre a URSS e os EUA na luta pelas medalhas. Em Tóquio (1964), as bandeiras do Sol Nascente voltaram a ser desfraldadas, no Japão. No México (1968), o poder negro denunciou ao Mundo o racismo da sociedade americana. Em Munique (1972, os Jogos ficaram marcados pelo terrorismo e pelo afastamento da África do Sul. Em Montreal (1976), aconteceu o boicote de trinta países africanos. Em Moscovo (1980), devido à Guerra do Afeganistão, um número significativo de países ocidentais boicotou os Jogos. E em Los Angeles (1984), os Jogos foram boicotados pela URSS e seus países satélites. Em Seul (1988), com Ben Johnson, um atleta, segundo os seus treinadores, fabricado grama a grama, aconteceu o primeiro grande escândalo de doping; Em Barcelona (1992), surgiram os primeiros rumores de que o COI tinha membros corruptos. Em Atlanta (1996), o Mundo tomou consciência de que os Jogos podiam ser um negócio privado de fraca qualidade. Em Sydney (2000), os Jogos passaram por cima das populações autóctones e, claro, da Carta Olímpica. Em Atenas (2004) aconteceu um descalabro financeiro inimaginável. Em Pequim (2008) as questões dos direitos humanos tomaram conta da comunicação social perante a indiferença da RPC. Em Londres (2012), as naturalizações de plástico entraram na ordem do dia. No Rio (2016), a palavra de ordem acabou por ser corrupção. Finalmente, Tóquio 2020, para além de um novo ressurgimento da bandeira do Sol Nascente, os Jogos ficarão marcados pela pandemia.
Felizmente, os Jogos começaram e vão, certamente, contribuir para reforçar o carácter único que distingue este evento. Esta é a oportunidade para a qual milhares de atletas de todo o Mundo se prepararam a fim de realizarem um sonho de vida. Independentemente do que possa vir a acontecer, os Jogos continuarão a ser uma oportunidade para a Humanidade reafirmar os valores do Olimpismo enquanto filosofia de vida, que coloca o desporto ao serviço do desenvolvimento humano.
Mário Santos pertence à direção da Federação Internacional de Canoagem e integra o júri daquele desporto nos Jogos de Tóquio 2020. Foi chefe da missão portuguesa aos Jogos Olímpicos de Londres 2012 e presidente da Federação Portuguesa de Canoagem. Durante estes Jogos vai partilhar o seu olhar com os leitores da VISÃO