Ganhou a alcunha de “Feiticeiro” nas camadas jovens da seleção pela quantidade de vezes em que, como que por magia, a bola lhe vinha tantas vezes calhar aos pés e acabava na baliza contrária. A brincadeira pegou e várias foram as vezes em que Gonçalo afagava uma imaginária bola de cristal sempre que marcava mais um golo. E sempre marcou muitos, desde criança, nas escolinhas do Olhanense, clube da terra natal onde brilhou e despertou a atenção do Benfica, com apenas 12 anos. Passou pela escola de futebol dos encarnados em Loulé e ingressou, aos 13, na Academia do Seixal, a mesma que já deu ao futebol talentos como Bernardo Silva, João Cancelo, Rúben Dias, João Félix e tantos outros.
De ano para ano, o miúdo de Olhão foi repetindo a feitiçaria do golo, firmando-se como um dos principais artilheiros de todos os escalões de formação do Benfica, primeiro, e da Seleção Nacional, depois.
A estreia na equipa principal dos encarnados aconteceu em julho de 2020, no Estádio da Luz, contra do Desportivo das Aves. Gonçalo, então com 19 anos, entrou aos 85 minutos e fez dois golos de rajada. Desde então, o jovem ponta-de-lança conseguiu afirmar-se na equipa principal do Benfica. Em 2020/21 marcou 4 golos em 12 jogos, na época passada foram 8 em 46 partidas e, na presente época, já somou 14 golos em apenas 21 jogos, um registo que “obrigou” Fernando Santos a inclui-lo no lote de convocados para o Campeonato do Mundo do Qatar. Em boa hora o fez, como já se percebeu. Mesmo que o “Feiticeiro” tenha dado, há já alguns anos, ganho também a alcunha de “Pistoleiro” (passou a festejar os golos com sopros em pistolas imaginárias), a verdade é que o puto de Olhão não brincou em serviço. Na primeira vez que vestiu a camisola principal das Quinas, no jogo de preparação contra a Nigéria, estreou-se a marcar. E o mesmo aconteceu na estreia como titular, na última terça-feira, contra a Suíça. Um jogo de sonho para um miúdo de apenas 21 anos, que entrou para o lugar habitualmente ocupado por um dos seus ídolos, Cristiano Ronaldo, e acabou a fazer um extraordinário hat-trick. Uma proeza ao alcance de muito poucos. Na história do futebol português, só Eusébio fez melhor, quando, em 1966, marcou quatro golos nos quartos-de-final contra a Coreia do Norte. Depois disso, Pauleta, em 2008, contra a Polónia, e CR7, em 2018, contra a Espanha, também assinaram hat-tricks, mas em jogos a contar para a fase de grupos. Já no que diz respeito à história do futebol mundial, Gonçalo pode gabar-se de uma proeza em que só é batido pelo Rei Pelé. Aos 21 anos é o segundo jogador mais novo de sempre a marcar três golos numa eliminatória de um Mundial. O eterno craque do Brasil tinha feito o mesmo, mas com 17 anos, em 1958, numa meia-final, contra a França.
Os dados estão lançados. Depois deste jogo contra a Suíça, é bem provável que a carreira de Gonçalo Ramos venha a dar mais um salto gigante. Até onde poderá chegar o jovem algarvio não sabemos. Mas ficámos todos com uma certeza: a Seleção Nacional ganhou um reforço de peso. Um craque, um goleador, que nos deixa ansiosos pelo próximo jogo e pelo seu próximo feitiço. Que venham muitos mais!