No curto espaço de três dias, Pierre Rabadan repetiu o mesmo gesto em dois locais de Paris: caminhou, descalço e em fato de banho, para uma pequena plataforma flutuante e mergulhou para nadar na corrente forte do rio Sena e depois, passadas 72 horas, voltou a mergulhar para se descontrair nas águas turvas do canal Saint-Martin. No primeiro, foi um dos fiéis escudeiros da presidente de câmara, Anne Hidalgo, de quem é vice e conselheiro especial, numa ação mediática destinada a demonstrar ao mundo que o rio principal de Paris pode ser usado nas competições olímpicas que se avizinham; no segundo, acompanhado de outros autarcas parisienses, foi simplesmente inaugurar a “época balnear” na “praia”, montada num troço com cerca de 100 metros do canal, em frente ao Jardim Villemin, no 10.º bairro, onde se disponibilizam balneários para troca de roupa e, nas horas permitidas para ir a banhos, não falta um nadador-salvador, sempre atento às pessoas que tiverem dificuldades de flutuação, próprias de quem vive longe do mar ou de lagos. “Não percebo porque há quem ainda ponha em dúvida a qualidade destas águas”, exclamou Pierre Rabadan aos jornalistas, após sair do banho. “Não é uma questão de convicção, mas de Ciência. Todos os dias, fazemos análise às águas e sabemos que elas não constituem perigo para a saúde. Após ter nadado nos dois locais, posso garantir que a única diferença entre eles é a corrente ser muito mais forte no Sena. Isso será, naturalmente, um problema para os atletas, que saberão como resolvê-lo na competição, mas não é um problema de saúde.”
Os mergulhos repetidos de Pierre Rabadan são completamente justificados no frenesim mediático a que estão sujeitos os responsáveis pela organização dos Jogos Olímpicos, nos dias que antecedem a cerimónia de abertura, na sexta-feira, 26 de julho. A despoluição do Sena é uma das principais bandeiras do projeto olímpico, concretizando uma promessa feita, mas nunca cumprida, por Jacques Chirac, em 1990, quando estava no gabinete agora ocupado por Anne Hidalgo – a mulher que ficará, sim, com o nome associado a um gigantesco plano de descontaminação, no valor de €1,4 mil milhões e em marcha há quase uma década, que promete entregar, no próximo ano, mais praias aos parisienses.