Na pequena aldeia algarvia onde me habituei passar férias há 45 anos, a partir de certa altura e durante alguns anos, aparecia regularmente uma figura carismática. Um tipo muito alto, bronzeado, de cabelo comprido que, durante o mês de agosto, vagueava pela praia e pelas esplanadas da terra sempre a dar nas vistas. Onde chegava, saudava todos com um inconfundível grito (yyaahhh!), que automaticamente lhe conferiu a alcunha do Índio. Aquele “pele-vermelha” era, afinal, um comum lisboeta, professor de educação física recém licenciado e completamente apaixonado pelo Desporto que escolheu uma das ilhas da Ria Formosa onde se podia pernoitar para as suas férias quase selvagens anuais. Bem, anuais nem tanto, porque, como fazia questão de explicar, “em ano de Jogos Olímpicos, as férias são para ficar em frente a televisão a ver tudo de fio a pavio”.
Lembrei-me por estes dias do Índio, a quem perdi o rasto, por estar a começar hoje aquele mês que, de dois em dois anos, me faz ficar colado ao ecrã para não perder pitada de Europeus e Mundiais de futebol. Sim, eu índio da bola me confesso. Não vou ao ponto de tirar férias só para ver os jogos, mas faço parte daqueles que, sendo apaixonado pelo futebol, anseia pelos dias em que pode ver os melhores do mundo em campo. E esses dias vão começar hoje e só acabam no próximo dia 14 de julho.
Compreendo e partilho a opinião daqueles que se queixam das excessivas horas de transmissão televisiva de conferências de imprensa, treinos abertos, debates de paineleiros e diretos de autocarros e aviões a andar de um lado para o outro. Dispenso quase tudo isso. O que vale são aqueles 90 ou 120 minutos em que a bola rola e os craques se batem por chegar o mais longe possível na competição. E conseguir, em cada jogo, apreciar o futebol sem ter necessariamente uma equipa por quem torcer. Sim, é verdade porque, se na Liga Portuguesa cada um tem a sua equipa de eleição e as outras são vistas como rivais, num Mundial ou Europeu, mesmo torcendo por Portugal, muito poucos (pelo menos os que, como eu, não se consideram fanáticos) não terão qualquer dificuldade de ter outras seleções por quem são capazes de torcer. Gosta-se mais de umas do que outras, mas há sempre equipas capazes de fascinar os amantes do futebol.
É, pois, com este espírito de índio da bola que me preparo para, a partir desta noite e durante o próximo mês, me sentar em frente ao ecrã, em casa ou em convívio com os amigos, para assistir ao maior número possível de jogos do melhor Desporto do mundo. E durante todos esses dias, eu e outros camaradas da VISÃO, aqui viremos deixar umas linhas sobre o que vamos vendo, os jogadores que nos fascinam, as jogadas e golos que encantaram ou os falhanços que desesperaram. Vamos prestar, obviamente, especial atenção às nossa Seleção, medir-lhe o pulso e torcer para que chegue o mais longe possível. E cá estaremos, no fim, para fazer contas e o balanço.
Viva o futebol!