É, provavelmente, o golo irregular mais famoso da história do futebol. A 22 de julho de 1986, Diego Armando Maradona marcou os dois golos da vitória da Argentina frente a Inglaterra, em jogo a contar para os quartos-de-final do Campeonato do Mundo do México. O segundo, aquele em que o astro argentino correu meio campo com a bola colada aos pés, a fintar meia equipa britânica, antes de bater o guarda-redes Peter Shilton, é considerado, até hoje, um dos melhores golos de sempre. Já o primeiro ficou para a eternidade como o golo que, como confessou o próprio Maradona, “foi marcado um pouco com a cabeça e um pouco com a mão de Deus”. Ora, estes dois tentos foram absolutamente determinantes para a carreira da Argentina nesse Mundial. Comandada por um magistral Diego Armando Maradona, superiormente coadjuvado por Jorge Valdano, a seleção alviceleste sagrou-se Campeã do Mundo pela segunda fez na sua história, oito anos depois da primeira ocasião em que conseguira o título, no polémico Mundial de 1978, organizado num país governado por uma ditadura militar sanguinária. Foi, pois, o título de 1986, garantido sob a batuta de Maradona e a sua “mão de Deus”, que ajudou a criar o mito e que todos recordam como momento definitivo, daqueles que colam o nome de um futebolista à história de um país e do futebol.
Foi preciso esperar 36 anos para que se pudesse assistir a algo idêntico. No dia 18 de dezembro de 2022, nos relvados do Qatar, o génio futebolístico de Lionel Messi foi, finalmente (à quinta tentativa), recompensado pela conquista do título mundial pela Argentina. Uma vitória que faltava na carreira do jogador, nascido há 35 anos em Rosário, que se fez homem e craque global ao serviço do FC Barcelona, que agora é uma das estrelas da constelação que é a equipa do Paris Saint-Germain e que dominou o mundo do futebol durante quase duas décadas, em competição permanente com o português Cristiano Ronaldo. Um troféu que, para alegria de uma nação em delírio, regressa à Argentina graças ao talento do pé esquerdo de um predestinado, o herdeiro de Diego Armando Maradona. Os mais crentes dirão que, depois da mão, agora foi obra do pé esquerdo de Deus.